quarta-feira, 20 de abril de 2011

Memória e Patrimônio

Acabei de passar em frente à primeira catedral de minha cidade e, espantada, não a vi!! Derrubaram o prédio!!! Só há ruinas e escavadeiras onde minha memória ainda pode ouvir o riso da minha filha, pequenina, brincando por lá, dia desses. Senti uma sensação de mutilação. Sem exageros. Senti o quanto é fácil destruir, pôr fora, história, memória, respeito. Não entendo que estética é esta que, para fazer crescer uma cidade precisa tirar dela seus velhos moradores. Arrancar de seu chão, paredes, prédios inteiros que a viram respirar ar puro. Que a viram repleta de árvores e pássaros. A antiga matriz, já a muito tempo, era sede da Escola Paroquial São Francisco de Assis. Inicialmente só para meninos, a escola abrigara muitos meninos e meninas anos afora (como disse, minha filha estudou por lá) e fechara há mais ou menos três anos. Mas o prédio não fechara! Não caíra! Estava de pé como há mais de sessenta anos!! Meu Deus, aquele prédio tinha quase a mesma idade da cidade!! Agora, poeira. Pó. Chão sendo preparado para novo cimento. Certa feita um amigo me disse que "quando um lugar que amamos deixa de existir, ele é mais nosso do que nunca, porque viverá somente em nossa memória". Falávamos da casa em que vivi até os dez anos e já não existe mais. Naquela hora me acalentou sua frase... Mas hoje, agorinha, ao ver o prédio daquela antiga Igreja, antiga Escola, Memória e Patrimônio jogados no chão, não senti nenhum tipo de alívio com essa frase. Senti, confesso, vergonha... Muita vergonha. Na Igreja da Sé, em Lisboa, uma obra de restauração parou quando encontraram vestígios de uma civilização antiga. Aqui, na minha cidade, sessenta anos parece já ser tempo demais, "história demais" para um prédio continuar de fé...

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