segunda-feira, 29 de julho de 2013

As meninas

Pra Kika Freyre

Eram duas meninas.
Uma tinha os cabelos em alfa.
Na outra escorriam rios dourados.

Uma morava ao sul, entre cimento e esperanças.
A outra ao norte, entre mares e andanças.
E as duas acreditavam nas noites de natal!

Uma tecia possibilidades entre as rochas.
A outra era uma rocha de possibilidades.
Mas ambas carregavam água na peneira como seu Manoel.

Nos olhos de uma viviam prado e mel.
Na outra uma noite inteira de estrelas brilhantes.
E tudo nelas era natureza!

O avô de uma fazia pão pra alimentar o corpo.
O avô da outra fabricava letras de comer com os olhos.
Mas as duas adoravam a palavra pão e o pão da palavra.

Uma amava sapinhos bem verdes.
A outra, sapatinhos vermelhos.
E ambas uivavam pra lua!

Uma trazia borboleta azul gravada no corpo.
A outra era ela mesma, uma borboleta a sobrevoar mares e céus.
Mas as duas falavam a língua das fadas.

Um dia, se olharam no espelho das histórias...
As estrelas da noite brilharam no verde prado.
Seus rostos eram irmãos em vida e sonhos!

Então, quando o espanto virou gargalhada
e suas vozes ajustaram os tons,
elas trocaram um abraço, os laços e o endereço.

Agora tem uma borboleta,
forte como uma rocha
sobrevoando ao Sul!


Enquanto ao norte
sapatinhos vermelhos
dançam pra lua.

Mas ambas continuam carregando água na peneira,
e contando, no idioma das fadas,
que todos os dias agora, são noites de Natal! 

Hellenice Ferreira

domingo, 14 de julho de 2013

Santa Teresa

Hoje estava relendo um blog antigo (2010), cujas postagens retirei do ar, e encontrei essa: 


"Há anos que já não sou católica.
Não faço a menos ideia de quem foi Santa Teresa.
Mas não me imagino sem subir Santa.
Um lugar que, de mansinho, foi se gravando dentro de mim.
Que, devagarinho, foi se tornando meu canto...
Ainda que Duque de Caxias seja meu chão diário.

Com todo o respeito à religião que me formou na infância:
hoje sou devota de Santa Teresa: o bairro.
O lugar que fundiu minha poesia com o sol, o som (dos bondes),
o tempo, dúzia de amigos e muitos, muitos passos meus...

Ave, Santa!!!!!!"

Isso tudo veio muito a calhar, porque ontem estive por lá, almoçando no Marcô, que, apesar do Sobrenatural, é meu restaurante preferido!
Muitas vezes fui a Santa à tardinha para almoçar por lá, como fiz ontem.
Bossa nova, choro, jazz, sempre uma música das boas me recebendo,me alimentando junto com meu preferido "frango com ervas finas"!

Santa Teresa.
Um pedaço de mim mora lá.


PS.: Só não sei se não sou mais católica. Apesar de conceber a reencarnação como um fato, tenho estado muito, muito próxima à Igreja Católica como espaço de oração.

sábado, 6 de julho de 2013

Paraty 2012



Nas Igrejas de Paraty, bençãos em forma de cor.
Tô voltando para decorar minha alma! 

Paraty

Estou seguindo para Paraty.
Terceira OFF FLIP em que trabalho.
A novidade de hoje é que será mesa redonda: As histórias como terapia.
Ao lado da Inez! Uma honra e alegria maior ainda!

Mas vou a Paraty com o mesmo coração inquieto de 2009...

Será, de verdade, que algum dia meu coração não foi inquieto? Será que algum dia ele será acompanhado por sonoridade igual, ao mesmo tempo e tom? Não sei se quero saber, mas sei que, hoje, não sei...

quarta-feira, 3 de julho de 2013

O Felino


Curioso,
o felino olha a luz da tela
e repara dentro dela
mil mistérios tolos,
que só os humanos
- sabidos que são -
prestam verdadeira atenção. 

segunda-feira, 1 de julho de 2013

...


Viva Minas que vive em minhas entranhas!
Viva Minas de todo os Gerais sentimentos 
e mais particulares amores.
Viva essa terra imensa do Sudeste.
Viva, viva, viva!

Hoje estou mineira...

Minas em mim
Para meu avô Libório, Bartô e Vander Lee


Minas acorda acordes em sol
e descanso lembranças que não vivi.

Montanhas-de-mar me ondulam
em acalantos de cheiros e ternuras.
Adormeço.

Minas escorre por meus poros
e brota raízes inversas.
Arvoreço.

Grávida de sedes-de-mar
Minas desperta meu sono
com tilintar de estrelas.

Quisera palavras
com que pudesse dizê-la.

Quisera silêncio
que se igualasse ao dela.

Minas em mim
é mais do que terra:
é geral e particular,
é chão de gente-poeta,
e sentidos sem fim.

Minas é feita de espaços.
Abraços.
É terra que sonha meus mares.
É terra feita de mim.

Hellenice Ferreira
Dia mineiro no Rio de Janeiro
Agosto de 2012