segunda-feira, 29 de julho de 2013

As meninas

Pra Kika Freyre

Eram duas meninas.
Uma tinha os cabelos em alfa.
Na outra escorriam rios dourados.

Uma morava ao sul, entre cimento e esperanças.
A outra ao norte, entre mares e andanças.
E as duas acreditavam nas noites de natal!

Uma tecia possibilidades entre as rochas.
A outra era uma rocha de possibilidades.
Mas ambas carregavam água na peneira como seu Manoel.

Nos olhos de uma viviam prado e mel.
Na outra uma noite inteira de estrelas brilhantes.
E tudo nelas era natureza!

O avô de uma fazia pão pra alimentar o corpo.
O avô da outra fabricava letras de comer com os olhos.
Mas as duas adoravam a palavra pão e o pão da palavra.

Uma amava sapinhos bem verdes.
A outra, sapatinhos vermelhos.
E ambas uivavam pra lua!

Uma trazia borboleta azul gravada no corpo.
A outra era ela mesma, uma borboleta a sobrevoar mares e céus.
Mas as duas falavam a língua das fadas.

Um dia, se olharam no espelho das histórias...
As estrelas da noite brilharam no verde prado.
Seus rostos eram irmãos em vida e sonhos!

Então, quando o espanto virou gargalhada
e suas vozes ajustaram os tons,
elas trocaram um abraço, os laços e o endereço.

Agora tem uma borboleta,
forte como uma rocha
sobrevoando ao Sul!


Enquanto ao norte
sapatinhos vermelhos
dançam pra lua.

Mas ambas continuam carregando água na peneira,
e contando, no idioma das fadas,
que todos os dias agora, são noites de Natal! 

Hellenice Ferreira

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