Pra Kika
Freyre
Eram duas meninas.
Uma tinha os cabelos em alfa.
Na outra escorriam rios dourados.
Uma morava ao sul, entre cimento e esperanças.
A outra ao norte, entre mares e andanças.
E as duas acreditavam nas noites de natal!
Uma tecia possibilidades entre as rochas.
A outra era uma rocha de possibilidades.
Mas ambas carregavam água na peneira como seu
Manoel.
Nos olhos de uma viviam prado e mel.
Na outra uma noite inteira de estrelas brilhantes.
E tudo nelas era natureza!
O avô de uma fazia pão pra alimentar o corpo.
O avô da outra fabricava letras de comer com os
olhos.
Mas as duas adoravam a palavra pão e o pão da
palavra.
Uma amava sapinhos bem verdes.
A outra, sapatinhos vermelhos.
E ambas uivavam pra lua!
Uma trazia borboleta azul gravada no corpo.
A outra era ela mesma, uma borboleta a sobrevoar
mares e céus.
Mas as duas falavam a língua das fadas.
Um dia, se olharam no espelho das histórias...
As estrelas da noite brilharam no verde prado.
Seus rostos eram irmãos em vida e sonhos!
Então, quando o espanto virou gargalhada
e suas vozes ajustaram os tons,
elas trocaram um abraço, os laços e o endereço.
Agora tem uma borboleta,
forte como uma rocha
sobrevoando ao Sul!
Enquanto ao norte
sapatinhos vermelhos
dançam pra lua.
Mas
ambas continuam carregando água na peneira,
e
contando, no idioma das fadas,
que
todos os dias agora, são noites de Natal!
Hellenice Ferreira
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