terça-feira, 28 de dezembro de 2010

As cidades invisíveis que Duque de Caxias contém

Desde que li "As cidades invisíveis", do Calvino, sinto um remexer das muitas Duques de Caxias que moram em mim... Em 2007 escrevi uma crônica, chamada Mi pueblo, falando desta cidade que me viu nascer e crescer. Mas cada vez mais sobrevoam lembranças-palavras por dentro de mim... Lembro-me da Duque de Caxias que se restringia à minha casa (a 29, como a chamamos até hoje); lembro-me de quando ela se estendeu até à minha primeira escola - o Glorinha, assim no masculino porque se tratava de um Instituto; do parque de diversões que me avisava que eu estava me aproximando da minha casa; dos amigos de infância; dos amigos adolescentes de minhas irmãs, quando eu era criança; das construções que acompanhei; do muro marcado pelo acidente que vitimou meu pai; lembro-me da Duque de Caxias que viu meu primeiro amor... Que me viu dançar Menudo (hehehe); que me viu rumar para Lisboa; de onde saio todas as vezes, mas sempre volto. São tantas as lembranças, meu Deus! Tudo, no final das contas, vira uma história. Semana passada uma pessoa muito querida, a quem admiro, pediu-me uma crônica sobre minha cidade, para uma coletânea. Fiquei muito feliz. Senti-me lisonjeada mesmo! A crônica ainda não nasceu, mas ando cada vez mais ufanista e acho graça nisso. Penso que, as cidades invisíveis que moram em mim ainda estão confabulando sobre quem vai aparecer no texto que nascerá. E, no entanto, independente do modo como nasça, serão todas as lembranças e cidades, uma só: Duque de Caxias, a sudeste-nordestina cidade em que nasci, vivo e trabalho. A cidade para onde sempre gosto de voltar, apesar do tanto que ainda espero dela. Apesar de amar viajar, conhecer e estar em outros lugares, não renego meu chão. Duque de Caxias, com estas ou outras palavras, ainda é e sempre será minha aldeia, mi pueblo, minha terra, não a que tem palmeiras e sabiás, mas, menorzinha, onde as árvores nativas são as goiabeiras e os pássaros, pardais, simples, como eu...

sexta-feira, 26 de novembro de 2010

Amor de Mãe D'Água

Acabo de receber o contrato de meu segundo livro pela Escrita Fina Edições:
Amor de Mãe D'Àgua.
Vou dedicá-lo ao Ediélio Mendonça que aceitou, por causa deste texto, dirigir meu trabalho no palco do Teatro Procópio Ferreira. Foi o espetáculo "Despertar de histórias". O primeiro de contação de histórias produzido aqui em Duque de Caxias.
Obra de Mãe D'Água, agora virada obra... literária.
Reconto.
Um encanto que a vida é, viu?!

quarta-feira, 17 de novembro de 2010

José Saramago: o criador do cão das lágrimas!


Acabei de comprar um novo Saramago. Mas, pela primeira vez, compilado. AS PALAVRAS DE SARAMAGO Recém lançado, ele reúne pensamentos do escritor, emitidos em entrevistas. Bateu aquele vazio de leitor-órfão: nunca mais eu vou ler um Saramago novo! Talvez exista um livro começado. Talvez vários. Mas será que ele terminou alguma coisa depois do CAIM? Será que tem algum romance oculto em suas gavetas? Só Pilar saberá. Ou tavlez só Deus... O Deus que ele sequer acreditava... Onde estará Saramago agora? Fico me perguntando. Mas, o que me fez vir blogar foi uma passagem registrada na página 216 deste livro:
"SE EU TIVESSE DE SER LEMBRADO POR ALGO, GOSTARIA QUE SE LEMBRASSEM DE MIM COMO O CRIADORDO CÃO DAS LÁGRIMAS"
Em setembro de 2006, talvez no dia 20 ou 21, eu estava na cidadezinha Alentejana de Beja, em Portugal. Eu vinha subindo uma ruazinha, depois que comprara biscoito e creme dental num mercado chamado Pingo Doce, quando avistei também um cão. Um cão português, hehehe Tivemos medo um do outro. Fomos andando e nos mirando... Eu escrevi sobre essa noite no Cenas Comuns. E o "cão das lágrimas" também emocionou-me muito, como essezinho que vi, naquela noite. Os animais têm um quê de afeto que, óbvio ou não, são sobre humanos! Eles transmitem, naquele silencio deles, uma solidariedade, no medo ou na dor, ou em tantos outros sentires, que a mim, dá a sensação de proximidade, enlace, sei lá que nome dou... Outros animaizinhos que me emocionaram no Saramago, são os porquinho do seu avó. Duas histórias que ele conta no Pequenas Memórias, onde os bichos aparecem - os bacoinhos - me emocionam também sobremodo. Não tenho vontade nenhuma de escrever dissertações ou teses sobre meus autores favoritos. NENHUMA!! Eles me dão algo supremo: suas memórias! Suas palavras acordam vivências que eu não tive, mas amo também. E revisito. E tenho saudades. Muitas vezes vou querer rever cão das lágrimas. Estou relendo o Memorial do convento. Lá não há bichos, senão coadjuvantes. Mas o cão das lágrimas é personagem principal na hora da dor da mulher que vê! Ele é "seu ombro amigo". A compreende. Beija suas lágrimas no jeito de cão, mas beija. Compreende mesmo. SARAMAGO, não vou deixar de lembrar aos outros deste seu singelo pedido. QUe talvez vc mesmo já tivesse resignificado, vai saber?! Afinal vc o disse em novembro de 2008 e já se passaram dois anos! Mas está lá, nas suas palavras compiladas por Fernando Gómez. E está tão dentro de mim esta cena (como a da Maria Carda riscando o chã!!!) que terei prazer em reproduzi-la quando falar de você (sozinho ou junto com meus outroas Josés...) Acho que no final das contas suas indignação, seus romances, sua vida, tudo é tão brilhante porque é simples. Proque você via beleza nas simplicidades, nas pequenas memórias... Amanhã faz seis meses que você se foi... Sei lá pra onde! Tenho minhas convicções religiosas, mas estou abandonando a arrogância neste campo... Deus é quem sabe onde nos põe, afinal Ele foi quem nos fez. Se minhas teorias estiverem certas, quero muito vê-lo, Zé. Trocar umas palavrinhas; desfolhar uns bem-me-queres; olhar uns pores-de-sol; falar do seu Portugal tão meu; ouvir meu Brasil por sua voz e memórias; te ver, só isso. Por enquanto ficam as palavras. As suas. As minhas. O que nasce na fusão das duas. O que desespera ou alumia na confusão delas. A poesia que só a distância faz surgir... Não sei quanto tempo ainda tenho... Espero por muitos!! Desejo-os!! Então, fica aqui meu até breve, desejosa de que seja um breve beeeeeeeeeeeeeem distante, mas certa de que no final das contas, das vidas, toda centena de anos é pouco... Viver é tão lindo que tenho preguiça com a morte... São as minhas intermitências :o/ Talvez...

domingo, 7 de novembro de 2010

Programa ABZ do Ziraldo

Ontem gravei minha participação no Programa ABZ do Ziraldo. Contei meu Menino chamado Negrinho, que galopou transquiiiiiiiilo do meu coração, direto pro ouvido das crianças e adultos presentes. Heitor Martins me acompanhou na canção final, como se tivessémos ensaiado muuuuuuito. (ensaiamos nada, por mais absurdo que pareça - e seja!) Sintonia. À minha frente, alunos daqui de Duque de Caxias. Estávamos todos em casa, naquele cenário que parecia um gibi. Deixei as imagens do Luis Silva com a produção, pra entremear com minha narração. Agora é esperar o tempo pra ver como vai ficar.

sábado, 16 de outubro de 2010

Enquanto isso.....

Nas tramas da leitura...

nas cantigas infantis...
com o livro na mão...
ou no curso "Pintando Histórias, caminhos para a arte de contar"
vou experimentando todos os sabores de uma Biblioteca!

sábado, 28 de agosto de 2010


Ainda publicarei poemas-voadores com inúmeras
ilustrações de borboletas. Por enquanto
estão todos nos seus casulos...

domingo, 22 de agosto de 2010

Profissão Viver

Hoje parei para pensar que profissão é a minha. Acho que foi uma pergunta muito próxima da “o que você quer ser quando crescer” que me faziam antes. Eu já tive tantas certezas sobre isso... Já quis tanto ser uma coisa e não outra que até assustava quando me descobria mudando de gosto. Daí que hoje eu me olhei e vi como eu não combino com o perfil do profissional da minha área. Nunca me preocupei com luta de classe, salário, organização rigorosa (quase inflexível!) nas ações, caramba!, eu não combino comigo... com esse meu lado que é pago para isto e não aquilo. Então suspirei e descobri que minha profissão é viver! Sei que profissão deve ser substantivo e não verbo. Mas a minha profissão é VIVER, mesmo! Verbo intransitivo, mas que pede todos os adoráveis complementos que implicam nesta ação. Ah! Profissão viver é parar ao som de uma buzina e comer um cuscuz que você não faz idéia de onde veio, como se fosse um manjar dos deuses. É sair pra rua no estreito espaço entre uma aula e outra só para olhar pardais. É esconder um livro na gaveta do escritório pra saborear, entre um balanço fiscal e outro, e não sufocar de tanta realidade. Profissão viver é contar uma história, mesmo quando ela nos consome, com o maior prazer, e se descobrir, e se pensar com ela... É ligar pra uma amiga na Indonésia e falar do cheiro do café brasileiro, sem se dar conta da conta telefônica! E ligar de novo no caso da ligação cair antes de dizer “um beijo”. É suspirar às dez da noite, após ter trabalhado dia inteiro, só porque o filho sorriu quando viu você chegar. Profissão viver é amar mesmo sabendo que vai doer... É ler quatro vezes o mesmo livro e ainda descobrir um quê de poesia que você ainda não tinha visto. É ouvir bossa nova e sentir-se a beira mar se um vento lhe toca as costas mesmo estando a quilômetros e quilômetros dele. É fazer versos dos amigos, e não pra eles. Compreendendo assim o velho poeta de Alegrette. É percorrer os quintais de Quintana, autopsicografar-se como Fernando, se colorir de Coralina prosa. É saber que a vida é isto ou aquilo ou nenhuma das respostas anteriores, com licença de Cecília! Minha profissão é viver. Vir e ver todo dia os mesmos lugares com perspectivas novas (e brigar sozinha por isto, se for preciso!). É ver estrelas na noite nublada só porque lembrou daquele olhar, daquela voz, daquele serzinho que lhe faz sentir tão capaz de amar, sonhar, escrever! VIVER. Minha profissão é viver. E vivo. Talvez você diga: “Diz isso porque está empregada e tem profissão”. Mas eu conheço tanto José da Silva desempregado, doente e feliz. Verdade! São meus colegas de profissão. Mas não vou discutir com você não. É, prefiro calar. Mesmo. Hoje em dia, penso que existem coisas que não são para serem entendidas e sim sentidas. E de mais a mais, não ter resposta também faz parte da minha profissão.
Do livro meu livro "Cenas Comuns"
Pra você, Beth, que viveu com plenitude e deixou seu rosto, ações e afeto gravados carinhosamente dentro de nós!

E.M. Profa Elisabeth Lopes Cabral

Sexta-feira, dia 20 de agosto, estive na inauguração da Escola Municipal Professora Elisabeth Lopes Cabral. Desde que soube que a escola teria este nome, nasceu forte em mim o desejo de falar pra quem fosse trabalhar ou estudar por lá, quem foi a Beth. Beth foi diretora da segunda escola em que trabalhei neste município. A escola em que trabalhei por oito anos. Em todos os turnos! Ela era a criatura mais humana que já tive contato na posição de gestora. Sua voz e sorriso soam em meus ouvidos enquanto escrevo. Morreu tão nova... Há um elo em nossas vidas muito engraçado: quando fui trabalhar lá, minha filha era um bebezinho de cinco meses. Cochas enormes de boa amamentação e genética, sorridente, linda como todo filhote! (E mais linda ainda porque era meu filhote, claro). Bem, acontece que Beth, cujos filhos já estava grandinhos, teve vontade de ser mãe novamente e nasceu, logo depois a Rafaela. Sexta-feira, quando eu a vi fiquei emocionada. Muito! A gente acompanhou a gravidez da Rafinha... Ela está a cara da Beth! Ah, minha amiga, que saudades... Mas que bom lembrar de você!!! E, de faixa bonus, ainda me dei conta de como a vida é curta e como a gente deve amar, amar e amar... Tive o prazer de fazer a primeira leitura compartilhada da escola. E para a escola! Para todos os que estavam presentes. Li a crônica Profissão Viver, que publiquei no meu livro Cenas Comuns. Vou postá-la aqui.

sábado, 14 de agosto de 2010

Uma nova história

Segunda-feira uma nova história começará a ser escrita no livro que minha vida é. Passarei a coordenar o Departamento Infanto-juvenil da Biblioteca Municipal Leonel Brizola e Salas de Leitura de Duque de Caxias. O Setor, na verdade começará, comigo. Já são encaminhadas ações de promoção de leitura desde o início da Biblioteca Leonel Brizola, como por exemplo os Festivais de Férias, mas meu trabalho será setorizar e intensificar este trabalho com vistas à formação do pequeno e jovem leitor. Eu, que deixo então a Equipe de Leitura da Secretaria Muncipal de Educação, passarei a ampliar, na Secretaria Municipal de Cultura e Turismo, meu sonho de ver minha cidade envolvida, cada vez mais, com livros e leituras! Obrigada ao Secretário de Cultura e Turismo, professor Gutemberg Cardoso, pelo convite e às amigas da Secretaria de Educação pelo apoio e cessão. As professoras: Myrian Medeiros (Subsecretária Pedagógica); Sônia Pegoral (Subecretária de Planejamento e Gestão de Pessoal) e Roseli Duarte (Secretária de Educação). Que seja um elo forte e produtor de bons frutos entre a Cultura e a Educação nesta cidade que me viu nascer, em todos os sentidos!!

quarta-feira, 11 de agosto de 2010

CIEP Gregório Bezerra

Acabei de chegar do CIEP Gregório Bezerra, onde contei e cantei histórias para mais de cem alunos do PEJA. Como me alimentam estas trocas... Cada olhar, riso, abraço me torna mais desperta humana, sabem?! Me torna mais consciente da importância de ler com e para o outro. Obrigada, meu Deus, pelas histórias que me compõem. Obrigada, queridos ouvintes, por me permitirem crescer nesta troca tão humana, afetiva e importante para minha vida!

segunda-feira, 9 de agosto de 2010

Num boieng da TAP...

Primeiro minuto do dia 9 de agosto... Eis que em algum lugar da cidade do Porto, o ilustrador Luís Silva se prepara para tomar o boieng da TAP rumo à Cidade Maravilhosa. Junto consigo, em sua mala, vem o as pranchas de "Um menino chamado Negrinho". O lendário "afro-gaúcho", remodelado dentro de mim, sobrevoará o Oceano Atlântico para ganhar páginas e mãos - MUITAS MÃOS - leitoras na Terra Brasilis. Boa viagem, Luís. Sejam bem vindo, Meninos!

quarta-feira, 28 de julho de 2010

Um menino chamado Negrinho

Anteontem recebi meu primeiro livro ilustrado prontinho! "Um menino chamado Negrinho", meu jeito de contar o Negrinho do Pastoreio, veio da cidade do Porto, recém saido das mãos do Luís Silva, direto pra minha ciaxa de email. Meu primeiro livro ilustrado foi também o primeiro cuja boneca é virtual! (A propósito, boneca é como chamamos as primeiras provas de um livro. Hum... Como se fosse o "rascunho" do livro; os vários modelos que elaboramos antes dele ficar pronto para os leitores) Minha emoção foi imensa! Hoje mostrei um pouquinho dele em power point lá na Biblioteca Leonel Brizola, onde contei histórias no VI Festival de Férias. A família está crescendo!

sexta-feira, 18 de junho de 2010

Outro caminho...

Hoje José Saramago pegou outro caminho. Uns chamam a isto de morte, eu já chamei muitas vezes de desercarnação, Falabella diz "foi pro andar de cima"... Eufemismos. Todos... Acredito que seja apenas um hífem. Todos fazemos parte de uma mesma vida, embora por vários caminhos, e tudo se resume a SAUDADE. Saramago é, dos escritores que conheci na fase adulta, um dos que mais amo. Tenho todas as suas obras. Uma delas comprei no país dele, porque se chama VIAGEM A PORTUGAL e pensei que esta eu teria que trazer de lá, como trouxe tantas emoções... A primeira vez que fui a Portugal foi para fazer um trabalho de leitura sobre o brasileiro (que amo muito), Bartolomeu Campos Queirós e "o palco" foi a Biblioteca Municipal José Saramago, em Beja, no Alentejo. Daí foram várias as misturas livro-leitora-literatura-vida-admiração... E hoje, o saldo são os livros. Já não o poderei ver pessoalmente, como desejei. Mas, 50 anos passam voando! Daqui a pouco nos veremos. Lembranças aos meus parentes, amigos e escritores, que já estão aí. Em especial ao seu homônimo José, o de Alencar, cujas obras abriram caminho dentro de mim para o desejo de devorar tudo de um só autor! E a Fernando Pessôa, que já me banhava do mar e das palavras lusas, antes que eu conhecesse as suas. Deus o receba, senhor agnóstico! E provoque ótimas histórias de afectos dentro de si!

segunda-feira, 14 de junho de 2010

Histórias espalhadas pelo caminho

Como em "João e Maria", marco meu caminho, como já o disse tantas e tantas vezes, com histórias. Mas há algumas que escrevo e gosto de deixar no meio do caminho, não como a pedra de Drummond, mas como miolinhos de pão das crianças do conto acima referido. - Para marcar minha trillha?! - alguém poderia me perguntar. - Não! - eu me apressaria em dizer - Não mesmo! Estas histórias que escrevo, deixo-as livre para pequenos (ou grandes) pássaros-leitores irem devorando... Então, eis que algumas vezes, deixarei postadas, histórias que não moram e, possivelmente, não morarão em livros. São histórias livres, pra quem quiser ler, copiar e multiplicar (não esquecendo, é claro, de citar a fonte, por favor!) Um afago!

segunda-feira, 7 de junho de 2010

Capítulo 10: E a família continua crescendo!

Já estão prontos mais dois livros: CONTOS E OUTROS TANTOS, onde reúno cerca de vinte e cinco crônicas e dois pequenos contos, que já dormem na gaveta de minha estante há oito anos!; e UM MENINO CHAMADO NEGRINHO, que é meu jeito de contar a lenda no Negrinho do Pastoreio. Esta será minha primeira obra ilustrada. Já está ganhando cores e formas, pelas mãos do artista africano, residente na cidade do Porto, Luís Silva. Vale a pena conferir as belezas que o Luís já trouxe ao mundo. Visitem http://www.cybersilva.com/ E uma outra obra vem ganhando forma. Será meu primeiro livro (dito) para crianças. A ideia na verdade não foi minha. Roseana Murray quando leu o poema "Marina", que mora lá POEMAR, sugeriu-me escrever poemas brincando com os nomes, mas voltados para crianças. Desde então vem nascendo Todos os nomes, que, eu sei, é título de umas das obras de Saramago, mas a temática é absolutamente outra e, desta forma, aproveito para homenagear esse escritor que tanto gosto. A verdade é que depois que as trilhas foram abertas (e sempre estiveram abertas como minhas próprias veias), nunca mais as histórias deixaram de fazer caminho por dentro de mim... Graças a Deus!

Capítulo 9: Simples, o terceiro filho de papel

Gestado durante o ano de 2009 e repleto de poemas guardados entre as minhas leituras, meu terceiro livro nasceu em março deste ano.
O lançamento aconteceu durante as comemorações da Semana da Baixada e o cenário, como das outras duas vezes, foi o Instituto Histórico da Câmara Municipal, onde Tânia Amaro, sua diretora, sempre foi parceira e apoiadora.
Lá, junto à minha mãe, minha filha e cerca de cinquenta outros amigos e duquecaxienses, dei à luz ao livro mais ousado e feminino dos três.
Simples, que na quarta capa traz comentários de Roseana Murray e Bia Bedran, reúne poemas dos mais suaves aos mais sensuais e ousados. Eróticos mesmo.
Veio ao mundo como fruto do desejo de contar da minha essência feminina, forte e nada sutil, tantas vezes guardadas no mais recôndido das gavetas (como fazem muitas mulheres, escritoras ou não).
No entanto, é, exatamente, como foi batizado: simples.
Não acredito que haja mulher que não se reconheça nele, em algum momento, em algum poema.
Aqui, gravo apenas uma brincadeira que fiz com a gramática.
Lição
No princípio era o verbo.
Depois vieram os pronomes.
Mas na verdade,
eu e ele nunca formamos
um "nós"
Tu sabes.
Todos sabem.
E eles se valeram disso
pra tornar a nossa história
apenas uma
figura de linguagem...

Capítulo 8: Pra você saber tintim por tintim...

Se você quiser saber tintim por tintim do que andei fazendo através do "Livro, Arte e cia", basta acessar www.livroarteecia.com.br

Capítulo 7: "Livro, Arte e Cia", marca e sonho registrados


Um dia os livros e a arte combinaram de ficar tatuados em mim.
Amante dos dois, mobilizei, na escola em que trabalhava na época (abril de 2002) uma feira artístico-literária.
Foi lindo!
Todos os professores do ensino noturno ajudaram. Se envolveram neste meu sonho, que se tornaria um marco em minha vida. Lembro-me daquela noite como se fosse hoje. Eram livros, esculturas, pinturas, selos antigos, músicas e suas letras, espalhados pela escola toda. Claro que deu trabalho, mas foi lindo ver professores e alunos no mesmo ato: ler, descobrir, bisbilhotar, sentir.
E o que era pra ser "apenas" uma feira de livros e exposição de arte, virou um Programa de Incentivo à Leitura.
Foram muitas as ações. Muita gente boa veio a Duque de Caxias através deste Programa. Com recursos próprios. Com empenho, garra e muita vontade de semear nesta terra em que nasci, o que há de melhor aqui e em outras partes deste nossos país e do mundo, como não?! Afinal passaram por aqui escritores e outros profissionais de renome internacional. Fui descobrindo que é mais fácil do que pensamos, fazer o bem, proporcioná-lo aos outros, sem grandes ônus financeiros, mas com grande investimento em credibilidade, confiança, verdade! Outras pessoas se sensiblizaram e isso é mágico! Minha vida mudou muito de lá pra cá. Eu fui de lá pra cá.Atravessei o oceano duas vezes. Isso tudo por causa do Livro. Isso tudo por causa da Arte. E sempre em muito boa Cia!

Capítulo 6: Palavras, silêncios e mar... Paixões

"...a felicidade existe, disse a voz desconhecida, e pode não ser mais do que isto: mar, luz e vertigem."
Assim escreveu José Saramago escreveu na página 259, do seu "Jangada de Pedra", publicado pela Companhia de Bolso.
Desde que fui apresentada a este autor português, pela amiga e excelente professora de Língua Portuguesa, Margareth Mallet, não o largo. Foi difícil entende-lo a princípio, mas depois que peguei o jeito, ah, que coisa! O "Jangada" é um dos meus preferidos. Eu o encontrei na banca de jornais um dia. Li a resenha, levei pra casa e devorei horas a fio. A frase que deixei acima é um delírio pra mim. É um presente.
Amo mar, luz, claro, e as palavras pouco usadas. Vertigem. Torpor, filigranas, relicário, colibri, palavras em desuso, sabe. Amo. Todas. Ou quase todas. Cheiram a curiosidade, delicadeza e me remetem há um tempo em que todos tinham tempo. São poéticas. São diferentes, como o próprio mar, a cada minuto o é. Ah...
Mas o que quero é contar sobre o convite que meu amigo Celso Sisto, me fez lá pelos idos de 2002. Ele que também é escritor, e dos bons, foi um dos meus primeiros, e mais assíduos leitores, e vivia me estimulando a pôr pra fora as palavras que eu guardava por dentro de mim, mas em forma de poemas. Então, como vinha dizendo, um dia ele provocou: "Hellenice, você deveria escrever poesias e reunir algumas num livro".
Bem, como já concordava com Saramago, antes mesmo de conhecê-lo, a provocação do Celso fez nascer o que chamei de Projeto Poemar. Poesias regadas a mar. Simples, mas fruto dos meus sentires mais variados. Dos meus mais densos silêncios. Umas vertigens de mim!
Poemar foi publicado em novembro de 2007 e para minha felicidade tiveram por moldura, as fotografias de Paulo Hauer, fotógrafo de extrema sensibilidade que doou suas fotografias por amor à Arte!

Capítulo 5: Algumas "Cenas"

As crônicas a seguir constam do meu livro "Cenas Comuns", publicado pelo "Livro, Arte e Cia" e "Associação dos Amigos do Instituto Histórico de Duque de Caxias", em 08 de março de 2007.
Cena 11 – Então ele respondeu
Meu pai era o tipo do cara de que me lembro quase sempre com um livro ou jornal entre as mãos. Geralmente eram livros à noite e jornais nas manhãs de domingo.
Quando ele morreu, eu tinha dez anos (quase onze) e se toda morte traz lá sua desculpa, a dele foi das mais esfarrapadas: acidente de trânsito, em frente à nossa casa e na calçada! Difícil de ler, não?! Imagina de viver aos dez anos!Mas, esfarrapada ou não, difícil ou não, pra tudo nessa vida a gente tem um parceiro que ajuda bastante – o tempo.
E o tempo passou. Passou muito até que aquela imagem de homem-leitor fizesse, na minha cabeça, o sentido que faz hoje.Naquela época, estávamos na década de 70 (aprendi a ler, oficialmente, entre 75 e 76). Década da lei 5692 – barra 72. Lembro-me de que líamos um livro por bimestre, a partir da quarta série. Mas, vivas mesmo na lembrança, ficaram foram as malfadadas “provas do livro”! Como eu odiava prova do livro! Irc! Se ainda fossem as bonecas1... Qual o quê?! Eram provas mesmo, no sentido de AVALIAÇÃO.Vinham encartes dentro das obras e nós éramos quase obrigados a decorar as respostas, OBJETIVAS, que deveríamos dar neste ou naquele ponto. Sem tirar nem pôr anotações.Ler pra mim era uma TORTURA, um SACO.
A primeira prova do livro que fiz foi a partir da leitura de O Gigante de Botas, de Ofélia e Narbal Fontes, editora Ática, Coleção Vaga-lume. Quem lembra? As obras, sempre oportunas, sujeitas ao uso despreparado que só o tempo e a vontade de muitos profissionais corrigiriam.1980.Acabei a leitura do livro, obrigada, num fim de domingo (a prova seria na manhã seguinte). Meu pai até que estimulava, mas, que nada, aquilo pra mim era tortura, na boa, como diriam os pré-adolescentes de hoje.Devo ter tirado nota pra passar, porque não fiquei com nenhuma má lembrança da prova.Muitos anos depois reli o livro. Gostei muito. Dele e do “Cem noites tapuias” lido também lá em 80. E aí fiquei pensando: “Por que não gostei deles lá atrás? Será que era só porque eu era criança? Mas eles eram pra minha faixa etária?! Por que tão distantes então?”.Não. Absolutamente. Não foi a minha idade que me separou da obra, foi o oferecimento. O objeto livro não chegou a mim como objeto encantado. A história não chegou como história. Chegaram ambos como instrumentos de avaliação. E nada mais difícil em qualquer idade e sob qualquer pretexto do que ser avaliado!... Pesa, aflige, assusta.Prova do livro.O que prova sobre meu “aproveitamento” de uma leitura senão minha vontade de partilhá-la com todas as pessoas de quem gosto?! Minha vontade irrefreável de contar pra todo mundo?! Escrever respostas “pré-fabricadas” sobre este ou aquele personagem, essa ou aquela parte, sobre (e isto é o pior) o que quis dizer o autor, me tornam, talvez, uma máquina copiadora. Talvez nem isso.E é aí que volto à imagem de meu pai.Absorto, estático, exceção feita à mão, que passava as páginas, e aos olhos, sempre ávidos. A face interna da leitura não podia, nem posso, ver. Mas aquela imagem, deliciosamente compenetrada, definiu e redefiniu meus encontros com as leituras, muitas vezes!O que o fazia ler sem ninguém mandar, sem ninguém pedir, ler pra não fazer prova nenhuma? Ler e ser feliz! Porque isso sempre ficou claro pra mim, ele era feliz lendo. Minha mãe diz até hoje que o mundo poderia despencar que, se meu pai estivesse lendo, não ouviria mesmo!A leitura o nutria.Quando catorze anos após sua partida comecei a trabalhar como mediadora de leitura, sem perceber, fui interiorizando textos pra contar, transformando-me pouco a pouco e sem saber em contadora de histórias... Claro que fiz umas excursões sobre Júlias e Sabrinas, José de Alencar e Exupéry antes, mas foi quando vi o brilho que refletia no olhar dos meus ouvintes, que me lembrando de meu pai, fui construindo meus conceitos sobre a prática leitora. Não adianta empurrar nada goela abaixo, que dirá livros! Vale dar dica, vale oferecer, vale contar ao pé do ouvido (e como vale!), mas tem que seduzir, alimentar, semear. Isso! Semear é o verbo. Semear e deixar que o dono da terra cuide do resto, na hora que achar melhor. Vale ajudar, mas sem cobranças. Ninguém obriga ninguém a ler. Que nos valha Daniel Pennac2! Semear e seduzir. Sempre. Sem medo.Muita água rolou no rio de minha vida, mas não precisaria de muito tempo para que, um dia, conversando com minhas irmãs mais velhas, me lembrasse de um diálogo que se tornou marcante:Ah, pai, eu acho ler muito chato! – tinha entre oito e dez anos.Então ele respondeu:Minha filha, quando você perceber a importância da leitura em sua vida, você nunca mais vai parar de ler, nunca mais.Além de tudo, meu pai, leitor inveterado, era visionário...A lição foi aprendida.
Cena 24 – Presentes do tempo
Tinha uma história inteira voando sobre minha cabeça quando me sentei para escrever. Só que aí o avião decolou, e ela, embarcada confortavelmente na primeira classe, foi junto.Não sei pra onde vão as histórias que nos abandonam quando ainda não foram escritas, mas sei o quanto delas permanece morando dentro de mim. Às vezes como suspiro, às vezes como dúvida, como um lugar vago do qual sinto saudades... No final, as histórias sempre acabam virando outras histórias.Não me lembro de ter ouvido muitas na infância, mas não esqueço de minha avó deitada no meu quarto, contando seus terrores pros meus temores sem fim! Do meu pai tocando acordeão, sempre a luz de velas (não me lembro do som, só das cenas, que foram tantas meu Deus!, todas em sépia). E gravado em água forte, tenho a lembrança de minha mãe deitada ao meu lado na cama dela, me contando a tartaruga e a lebre.(Não sei como, mas guardo a visão aérea desse momento! Vai lá entender memória).Era verão e a janela do quarto estava aberta. Um vento agradável, como o que sinto agora, talvez soprasse de lá, porque minha lembrança é muito fresca. Naquele dia a voz de mamãe era mansa e matreira a contar as peripécias da frágil tartaruga pra cima do coelho, dito sabido! Lembro-me de que interagi o tempo todo: pedi detalhes, tirei dúvidas e sorri. Lembro-me perfeitamente de ter sorrido. Deve ter sido um riso bem gostoso, porque eu não tinha mais que três anos e nessa fase todo sorriso é delicioso de ouvir!Minha memória sempre foi boa! Mas esta é a melhor memória que tenho de minha mãe! Com certeza ela fez muito mais por mim, mas naquela hora, ela foi minha contadora de histórias. Só minha! E cheia de carinho!Deitadas em sua cama, numa noite de verão, debaixo de janelas venezianas, corremos juntas pra não perdermos aquela corrida de todos os séculos: a contra o tempo! Porque ao me contar a história, minha mãe não fazia mais do que parar, para sempre, aquele tempo na minha memória.Não me lembro de outro, mas isto não importa. Houve este. E haverá sempre que eu quiser, para sempre.As histórias pertencem ao tempo presente, sempre que são lembradas. São presentes do tempo que passamos com os outros. São caixas decoradas de afeto, atenção, afago, lágrima, riso, gratidão. E têm sempre um laço de fita, bem lindo!Que bom que a história que eu ia escrever pegou o avião, acho que precisava mesmo aterrissar na minha infância pra reencontrar esse presente que o tempo me deu: o meu próprio tempo.
Cena 26 - Companhia possível
Foi no Cais do Sodré, Lisboa.Era uma linda manhã de setembro e o outono ainda não dava o ar da graça. O sol fazia brilhar diamantes no colo do Tejo e eu aguardava, na paragem de táxi, o carro da prefeitura de Beja.Distraía-me olhando a dança das gaivotas pelo cais, pelas árvores e telhados. Elas voavam juntinho a mim (é como se as visse agora, embora seja madrugada). Brinquei de pique-esconde com o sol: estava comigo e o esconderijo dele era entre as folhas da árvore donde eu contava o não-tempo...O som da lancha Aroeira fez-me desviar o olhar e segui-la um bom tempo. Foi aí que vi: três marinheiros jovens e sorridentes caminhando do outro lado da rua. Na mesma hora lembrei-me de “Noite de Almirante”, do Machado. Este conto me apaixonou quando eu contava catorze anos. Aquela espera do marujo e sua decepção foram, e são, tão minhas...E ali, aguardando partida, refleti-me naquelas fardas. Acompanhei os marinheiros até o sol correr, bater um-dois-três e eu sair da brincadeira.Olhei pro relógio e vendo o longo atraso, resolvi telefonar.O orelhão engoliu meus céntimos, eu em seco e o tempo, as horas.Quando já ia bufar, ouvi dum carro azul cobalto um homem gritar a pergunta: “Beja?!”. E eis que minha âncora é retirada. Ao lado de um lusitano e um espanhol, eu, brasileira, embarcava numa viagem de três horas, pra daí a três dias passar três minutos lendo na cidade branca, quente e iluminada do Baixo Alentejo. Lá, embora ninguém fosse saber, eu seria o marujo vindo de mais longe, vivendo minha “noite de almirante” nos braços do meu idioma, como única companhia possível.

Capítulo 4: Mas onde estavam os livros?

Xiiiiiii. Mas onde estavam os livros na minha vida?! Eles sempre estiveram por perto. Sempre. Minha casa tinha uma estante cheia. Havia o exemplo do meu pai, mas não fui leitora assim de cara, como algumas pessoas, não. Eu até que mexia neles, mas... Certa vez, aos quatro anos peguei um livro pra "ler" pro meu irmão recém nascido, só porque a capa era azul, linda! A família virou platéia, foi divertido. Comecei a ler, oficialmente aos seis anos, com a professora Letícia, nome cujo significado é aquela que traz a luz, e ela fez mesmo isso, com tal carinho que não tive dificuldades para decodificar. Mas demorei a me tornar leitora. Conto isso também no meu "Cenas Comuns". Lembro-me de que aos dez anos li dois livros que a escola mandou. Mas o que às vezes ainda me faz corar é a lembrança de um dia, na segunda série, quando eu tinha oito anos. Meus pais tinham me dado um livrão do Tom e Jerry. Era mais um gibizão que livro propriamente. Não importa. Eu queria mostrar a professora. Quis tanto, insisti tanto, que ela gritou pra eu sentar. Ao final da aula, quando a maioria já tinha ido embora, chamou-me dizendo: "Vai, Hellenice, me mostra o livro agora". Eu mostrei, né... Escrevo isso, não para culpar A ou B, mas principalmente para que professores, como eu, que atuem com criança, jovem, adulto ou velho fiquem mais atento. Enfim. Eu brincava de "quem lê melhor", com um tio e uma irmã, mas não encarava livro sozinha. Ganhava gibi alguns domingos. Lembro-me até do jornaleiro, um senhor moreno e sorridente que passava em nossa casa toda manhã pra vender os jornais e, às vezes, como disse, gibis. Lia as lições dos livros didáticos. E pintava as ilustrações - que ram sempre em preto e branco. Aliás, essa era a parte que eu mais gostava! (Um dia a arte e os livros me chamariam pra uma conversa de gente grande...) Pouco antes de falecer, meu pai me deu O Pequeno Príncipe. Eu não li. Aos doze ganhei uma afilhada.Era muito frágil. Ficou muito doente. Então, eu, que era católica, prometi que se ela vivesse, eu leria um livro da minha mãe, sobre a vida de Jesus. Era um dos maiores da casa. Márcia sobreviveu. E eu, me tornei leitora. Ela me batizou. Salvamo-nos! Depois da promessa paga, a duras penas, verdade, passei pro Pequeno Príncipe. Dele pras Júlias e Sabrinas, todos os de José de Alencar da estante, um tiquinho disso, outro daquilo. E por aí foi. Na sétima e oitava séries do ensino fundamental tive um excelente professor de Língua Portuguesa, o Almeida, do Instituto Nossa Senhora da Glória, o nosso Glorinha. Com ele conheci muita gente boa da Literatura. Tive contato com obras que visito e indico até hoje. "A morte tem sete herdeiros", por exemplo, mostrei recentemente pra minha filha e ela gostou tanto que passou pra duas primas. "Caminhando na chuva", do Charles Kiefer, deixou tão boas recordações que fiz questão de cumprimentar o autor, pra agradecer, na Feira do Livro de Porto Alegre, em 2008, onde ele fora homenageado. "Encontro marcado", do Fernando Sabino, foi motivo para que eu reproduzisse a história-título com mais duas amigas, no Ensino Médio (só que nós cumprimos!). E o apaixonante "Noite de almirante", do Machado, ficou tão dentro de mim que saiu e virou texto meu. Vou postar aqui também. Fera nas escolhas, o Almeida! Bons livros. Boas lembranças. Bom profissional! Isso é sempre um diferencial na vida da gente. Eu tive e tenho sorte. Aos dezessete fiz minha opção religiosa e li muuuuuuuuuito, muito mesmo. Tornei-me uma devoradora de obras dos mais variados estilos literários. Primeiros relacionados à minha religião. Depois, com o tempo, um pouco de tudo. Veio a faculdade, onde a indisciplina de só ler o que me dava prazer atrapalhou um pouco. Fui me disciplinando (bem pouco, verdade); veio o trabalho como contadora de histórias e com ele tanta gente boa que nem ousaria nomear, para não correr o risco de esquecer alguém. Veio a Arteterapia com outros tantos livros, sendo o mais forte deles, de cabeceira até hoje, o "Mulheres que correm com os lobos", da Clarice Pinkóla. Veio a terapia, onde fui recebida com texto de Clarice Lispector e presenteada com uma obra dela quando obtive "alta". Um tempo antes, em agosto 2001, veio a mágica presença de Lygia Bojunga! O primeiro livro dela que li foi "A bolsa amarela", eu contava 31 anos. Leitora tardia de Lygia, sou absolutamente encantada por sua criação. Os mais especiais pra mim são "Corda Bamba" e "Retratos de Carolina", me acho uma mistura de "Maria" e "Carolina" (lendo os dois entenderão um pouco). Antes de completar um ano, em junho de 2002, já tinha lido 16 das 18 obras publicadas por ela, até então. E em abril deste mesmo ano, dois meses antes então, eu iniciara o Programa de Incentivo à Leitura "Livro, Arte e Cia", que procuro conduzir até hoje. Semeando aqui e ali, nesta cidade em que vivo, pequenos grãozinhos, na esperança de ajudar novos leitores, novos apaixonados pela Literatura. Cinco anos depois nasceram, através deste Programa meus dois filhos de papel: "Cenas Comuns" e "Poemar". Meus jeitos de dizer crônicas e poesias. Meus pensares encardenados. Bem, se alguém hoje me perguntasse onde estão os livros em minha vida, eu responderia com outra pergunta: "-Onde está minha vida, sem os livros?"

Capítulo 3: Quem me devolveu as histórias?

Fiquei muito tempo afastada das histórias. O tempo faz isso. A gente faz isso. Porque a vida cobra tempo o tempo todo, e quem prefere pretere. Embora nem sempre seja preferência, e sim necessidade mesmo. A gente tem que fazer tanta coisa pra se manter, que vai esquecendo até que gosta de algumas coisas... O fato é que só aos 24 anos, quando fui trabalhar num CIEP é que as histórias foram me achando de novo.
Nós - eu e todas as outras professoras aprovadas no concurso de 1994 - nos apresentamos no dia 07 de março.
Neste dia as professoras orientadoras (POs) do CIEP 198, onde fui lotada, nos disseram que três de nós trabalharíamos numa função nova, a de professor de estudos dirigidos...
Todas caladas e eu, que trabalhara com EJA e queria ter continuado com esse grupo que o concurso não abrangeu, me ofereci. Fui a primeira a dizer eu quero, sem saber exatamente como seria.
Mas foi ótimo!
Tínhamos duas salas para os estudos dirigidos: uma chamada Desafio de Pesquisar, e a outra Prazer em Ler. Adoraaaaaaaava essa última! Era a que eu mais enfeitava e onde mais me esbaldava!
Li e conheci muita coisa de Lietarua Infanto-juvenil neste espaço.
De algum modo foi lá que, sem saber, nasci como contadora de histórias!
Engraçado... A primeira história que eu contei oralmente, resolvi decorar porque achei muito grande pra ler e como não tinha ilustrações, tudo bem não mostrar o livro página por página. Era o conto "Os três fio de cabelo de ouro do diabo". Eis a primeira história que contei oralmente em público
E para dezoito turmas de um CIEP!
Para algumas contei muitas e muitas vezes mais, a pedido deles.
Nesse tempo eu estudava Filosofia na UERJ e a diretora pediu-me que procurasse o grupo "Confabulando". Nunca procurei. Uma lástima. Mas, é aquilo, chegava em cima da hora sempre, etc etc. O fato é que não escutei com atenção o chamado. Eram as histórias me chamando de volta! Como professora, elas seriam excelentes aliadas. Mas, não dei trela. Naquele 1994 li muitas histórias. Mas adorava contar "Os três fios", eu dominava cada vez mais a histórias daquele menino sortudo. Afinal, eu também sou sortuda! Muito! Depois eu conto uns porquês. Bem, mas aquele ano acabou. O outro. E mais outro. No natal de 1996, ganhei o meu maior presente: engravidei. Virei lua, nova, crescente, cheia. Dentro de mim um mar inteiro cresceu (e muito). Na primavera de 97, nasceu menina, meu mar-Marina. ELA SIM, ME DEVOLVEU AS HISTÓRIAS! Toda minha vida mudou depois da minha filha. Desculpem-me o lugar comum. Mas eu sou mãe, ué?! E quem não entender, só lamento. Depois que meu eterno presente de natal nasceu, as histórias voltaram com toda força! Lembro-me de que numa das noites em que eu a embalava (deitava com ela ao seio pra cantar histórias), desejei contar-lhe Pinóquio e me dei conta de que não lembrava. Até então eu me contentava em cantar pra ela, mas agora queria contar, "contar de boca". Era janeiro de 1999. Em junho, a Secretaria Municipal de Educação ofereceu um curso de formação para contadores de histórias. Fiz inscrição. Os formadores?! Lúcia Fidalgo e Benita Prieto. Grupo Morandubetá = Muitas histórias = Foi assim. Marina se alimentando do meu seio, levou-me à origem de tudo. Num amamentar inverso, simultâneo, forte, poético. Foi ela que me devolveu as histórias. Minha filha. Agora, de junho de 1999 até hoje, muita história rolou. Mas muuuuuuuuuuita. Muita meeeeeeeeemo. É moranduba a beça. (Até minha filha agora escreve histórias!)

Capítulo 2: Como eu e as histórias nos encontramos

Quando comecei a contar histórias, dizia sempre que na minha infância tinha ouvido poucas.
Hoje vejo que cometi uma grande injustiça.
Minha mãe contou-me a incrível história da tartaruga e a lebre, quando eu tinha por volta de três, quatro anos. E o fez de modo tão inesquecível que contei pra todo mundo no meu livro "Cenas Comuns".
A mãe dela contava causos de terror e histórias da família como ninguém!
O filho dela, meu tio Fábio, contava e me ensinava a contar piadas escabrosas, para assombro e risadas mordidas de minha mãe e da família toda.
(Com ele eu fiz, com certeza, meu primeiro curso de formação)
Meu avô materno, contava suas histórias de vida, passadas lá pelas Minas Gerais e cantava, com a voz mais triste, verdadeira e tocante que minha infância guardou. Sobretudo cantando "Índia". Nenhum membro da família herdou o jeito desse cantar, mas meu irmão é locutor, e sua voz é um capítulo à parte. Sobre meu avô e suas lembranças quem me fez recordá-las foi minha irmã Tânia Regina, que o adorava e eu só vim saber agora, depois de adulta.
Meu pai...
Meu pai era uma árvore de leituras.
Se alimentava de muitas histórias. Deixava que corressem seu corpo-tronco como seiva. Exalava o perfume desses aprendizados, quando nos chamava atenção. E nos fazia chorar, sem usar de violência alguma. Transformava suas emoções em poesias. Mamãe com carinho de seu caderno de poesias, mas um dia, assaltaram êlá em casa e o levaram, sei lá o porquê. Ficou apenas um poema curiosamente entitulada "Despedida", escrito exatamente 14 anos antes dele morrer. Papai tocava o acordeão quando faltava luz. Eu quase rezava pra faltar luz todos os dias. Ele cantava cantigas populares, e a que mais me recordo é aquela que diz assim:
"Fiz a cama na varanda
Me esqueci do cobertor
Deu um vento na roseira
Ah, meus cuidados me cobriu
Toda de flor".
Cantei esta canção lá no Porto, pras alunas da Escola Superior de Educação de Paula Frasinetti. Levei muitas outras histórias comigo naquele dia... Mas, isso conto depois.
O acordeão era do meu avô, pai dele. O Seu Ferreira.
Vovô Ferreria era semianalfabeto, escrevia poesias e fazia repentes, com ou sem sua harmônica (que é como ele chamava o acordeão). Não cheguei a ver isso, mas organizei em livro com suas poesias, graças a sua única filha, Tia Flor, que me passou tudo antes em 2007.
Ah, ela contou-me histórias também. Muitas. Sobre meus avôs, meu pai e sobre esta minha família (a paterna). E levou-me ao Frade, onde meu pai viveu quando criança.
Agora percebo que poderia escrever horas a fio, a me lembrar tantas e tantas outras histórias e seus contadores.
Dona Carlita, por exemplo, uma vizinha do tempo em que moravamos na "29", como chamamos até hoje a casa do Bairro Parque Felicidade, onde moramos até papai falacer. Ela contava terrorzão!!! Eu nem andava sozinha depois. Horrível!
E ainda tinham as histórias de Lobato, na TV (meio misturadas, mas deu pra me apaixonar pelo Escamado, ah!); as do Daniel Azulay; as que eu e meus irmãos inventávamos pra brincar de novela, pra brincar de brincar mesmo.
As histórias que eu sonhava sozinha, no sofá, deitada com o corpo no assento e as pernas no encosto, olhando os pardais pela janela veneziana da sala.
Nossa, quanto tempo!
Bem, as histórias chegaram assim, na minha vida, por todos os lados, e com vários jeitos, como, eu acho, acontece com todo mundo.
A gente é que às vezes não se dá conta...
E você, já se deu conta?

Capítulo 1 - Sobre como virei Hellenice com H e "LL"

Quando nasci, meu pai já havia se encarregado de me reservar quatro irmãs. Quis o destino (neste caso representado por meu pai) que o nome de todas elas começassem com a letra E. Viúvo, ele se casara com um broto de olhos azuis e cintura fina chamado Elza. Parênteses. Não herdei dela olhos nem cintura, mas meus bolos são maravilhosos! Bem, meu pai então vivia com cinco mulheres cujos nomes começavam com E. A primeira filha deste casamento não fugiu à regra, mas resolveu logo logo ir morar no céu, que é mais fresco e de onde se vê tudo melhor. 1970. Ano do tri! Tri legal! Embora a cegonha que veio me trazer ao mundo fosse estrábica e ao invés de me deixar em Caxias do Sul, tenha me atirado em Duque de Caxias mesmo (que hoje aprendi a amar!!), tive a sorte de aportar nesta família. Faltava-me um nome... Minha mãe escolheu Débora, mas minha avó materna vetou. Meu pai, esperto, sugeriu Elenice. Minha mãe, determinada, aceitou, desde que começasse com H. Feito. Mais ou menos, porque ao chegar no cartório, meu pai adicionou ao H, dois "eles". Pronto. Daí, passo a vida a dizer "é com H e dois 'eles' " antes de dizer meu nome em qualquer lugar. E, claro, pago sempre duas letras a mais em gravações. Mas, sou um divisor de águas na família. Se antes todas tinham o nome com E, depois de mim cada um teve uma inicial diferente - a família é grande! Como asas de uma gaivota trago os dois "eles" que equilibram um H pra lá de importante: meu começo.

Prólogo: Um breve autorretrato

Neta de um padeiro, olhos cor dos prados e uma lavadeira-xamã, com olhos de céu-à-noite; de um sapateiro-poeta e uma pescadora silenciosa; sou filha de um porteiro-pesquisador e uma guerreira com os olhos azuis mais claros e intensos que conheço.
Sou a mãe da Marina! Raíz da minha fertilidade, fruto do desejo de minha alma e flor-menina do meu coração.
Sou professora. De bebês, crianças, jovens, adultos e velhos que me ensinam sobre amar.
Sou feliz! E muito.
Grata a Deus que me ensinou a andar duas vezes, só nesta vida, e a levantar sempre que caio.Sou canção do Verbo Criador, feita mulher. Agradeço por isso. Sou barco. Tenho o timão do destino sempre entre as mãos suadas pelo desejo-de-mar... E o coração de fada, que voa, ama e odeia com força, com o peito cheio. Mas é o bom afeto que sempre fica.
Amo a chuva fina.
As palavras refinadas.
A neblina, que transforma tudo em sépia.
Amo o sol forte. O abraço que sufoca.
As bocas que ensinam. O palavrão na hora certa.
Amo o Amor, sempre. Tese e antítese humanas, minha síntese assina Hellenice Ferreira.
Mas sou mais (às vezes do mesmo): sou Hellenice. Hellen. Hellê. Lellê. Lê.
Nice, só pra família (qualquer tentativa externa de uso deste apelido
eu repilo!).
Sou o eterno-retorno, o jardim de Epicuro (?!), o rio heraclitiano. Socrática. Caótica. Existencialista. Realista à beça!
Sou contadora de histórias, mas acima de tudo: POETA.

sábado, 1 de maio de 2010

Folhas e frutos.....

Hora de arrumar a casa virtual! Adiante o caminho que as histórias fizeram dentro de mim, folhas e frutos, em dez capítulos: do meu nascimento até a publicação do meu terceiro livro. Depois... Ora, depois a vida ainda irá propôr... E eu... vou escrever! Ah, vou!!!

quinta-feira, 22 de abril de 2010

Outro sábado...

Os dias não andam faz tempo: têm voado! Eis outro sábado. Diferente do sábado em que nasci. Este está friorento e aconchegantemente outonal... Estou pensando no caminho que as histórias fazem por dentro de mim. Pensamento lento. Preguiçosamente vagaroso. Remando, como me dizia o Francisco Gregório, ator, contador de histórias... Formador de tantos outros contadores. Aliás, hoje está como os dias em que fiz oficinas lá no Paço Imperial! Nossa!!! Isso já faz sete anos! É chegada a coceirinha dos sete anos, como diz a Lygia... Tenho coisas a mudar e permanências a sedimentar. "Não mudar" é outro tipo de mudança. Tanto quanto a inconstância é uma permanência, às vezes, necessária. Paradoxos sabadescos... Agora, nada de escrever. Quero apenas sentir.

quarta-feira, 14 de abril de 2010

Flores...

Era sábado e fazia sol, naquele carnaval de 1970. Não sei se a minha Verde e Rosa ganhou ou ficou bem colocada, mas eu, olhos verdes e pela rosada, chorei pela primeira vez (a única de cabeça para baixo, graças a Deus!) e logo que fui pro banho, o Dr Vasco (nome infame!) cantava, enquanto cuidava da minha mãe, uma jovem de vinte três anos: "- Oh, Jardineira porque está tão triste? Mas o que foi que aconteceu? - Foi a Camélia que caiu do galho, deu dois suspiros e depois morreu..." Em casa a canção seria outra, não menos verde nem cuidadosa, mas bem mais viva: " - Fiz a cama na varanda, Me esqueci do cobertor. Deu um vento na roseira meus cuidados me cobriu toda de flor" Mas essa já é uma outra histórias...

quinta-feira, 8 de abril de 2010

Semente...

Antes de nascer eu já era palavra. No abraço dos meus pais, meu corpo-texto tomou forma. No balé aquático, amniótico, cresceram dedos e cabelos. Sexo e todo o resto. Me fiz mulher. E me faço até hoje. Dia-a-dia. Ano-a-ano. Minuto-a-minuto. Cada vez mais Hellenice. Ferreira dos meus trilhos. Passageira da Terra. Hóspede de Deus. Anfitriã dos meus. Serva. Guerreira. Grito e silêncio. Palavra. Semente...