segunda-feira, 7 de junho de 2010

Capítulo 3: Quem me devolveu as histórias?

Fiquei muito tempo afastada das histórias. O tempo faz isso. A gente faz isso. Porque a vida cobra tempo o tempo todo, e quem prefere pretere. Embora nem sempre seja preferência, e sim necessidade mesmo. A gente tem que fazer tanta coisa pra se manter, que vai esquecendo até que gosta de algumas coisas... O fato é que só aos 24 anos, quando fui trabalhar num CIEP é que as histórias foram me achando de novo.
Nós - eu e todas as outras professoras aprovadas no concurso de 1994 - nos apresentamos no dia 07 de março.
Neste dia as professoras orientadoras (POs) do CIEP 198, onde fui lotada, nos disseram que três de nós trabalharíamos numa função nova, a de professor de estudos dirigidos...
Todas caladas e eu, que trabalhara com EJA e queria ter continuado com esse grupo que o concurso não abrangeu, me ofereci. Fui a primeira a dizer eu quero, sem saber exatamente como seria.
Mas foi ótimo!
Tínhamos duas salas para os estudos dirigidos: uma chamada Desafio de Pesquisar, e a outra Prazer em Ler. Adoraaaaaaaava essa última! Era a que eu mais enfeitava e onde mais me esbaldava!
Li e conheci muita coisa de Lietarua Infanto-juvenil neste espaço.
De algum modo foi lá que, sem saber, nasci como contadora de histórias!
Engraçado... A primeira história que eu contei oralmente, resolvi decorar porque achei muito grande pra ler e como não tinha ilustrações, tudo bem não mostrar o livro página por página. Era o conto "Os três fio de cabelo de ouro do diabo". Eis a primeira história que contei oralmente em público
E para dezoito turmas de um CIEP!
Para algumas contei muitas e muitas vezes mais, a pedido deles.
Nesse tempo eu estudava Filosofia na UERJ e a diretora pediu-me que procurasse o grupo "Confabulando". Nunca procurei. Uma lástima. Mas, é aquilo, chegava em cima da hora sempre, etc etc. O fato é que não escutei com atenção o chamado. Eram as histórias me chamando de volta! Como professora, elas seriam excelentes aliadas. Mas, não dei trela. Naquele 1994 li muitas histórias. Mas adorava contar "Os três fios", eu dominava cada vez mais a histórias daquele menino sortudo. Afinal, eu também sou sortuda! Muito! Depois eu conto uns porquês. Bem, mas aquele ano acabou. O outro. E mais outro. No natal de 1996, ganhei o meu maior presente: engravidei. Virei lua, nova, crescente, cheia. Dentro de mim um mar inteiro cresceu (e muito). Na primavera de 97, nasceu menina, meu mar-Marina. ELA SIM, ME DEVOLVEU AS HISTÓRIAS! Toda minha vida mudou depois da minha filha. Desculpem-me o lugar comum. Mas eu sou mãe, ué?! E quem não entender, só lamento. Depois que meu eterno presente de natal nasceu, as histórias voltaram com toda força! Lembro-me de que numa das noites em que eu a embalava (deitava com ela ao seio pra cantar histórias), desejei contar-lhe Pinóquio e me dei conta de que não lembrava. Até então eu me contentava em cantar pra ela, mas agora queria contar, "contar de boca". Era janeiro de 1999. Em junho, a Secretaria Municipal de Educação ofereceu um curso de formação para contadores de histórias. Fiz inscrição. Os formadores?! Lúcia Fidalgo e Benita Prieto. Grupo Morandubetá = Muitas histórias = Foi assim. Marina se alimentando do meu seio, levou-me à origem de tudo. Num amamentar inverso, simultâneo, forte, poético. Foi ela que me devolveu as histórias. Minha filha. Agora, de junho de 1999 até hoje, muita história rolou. Mas muuuuuuuuuuita. Muita meeeeeeeeemo. É moranduba a beça. (Até minha filha agora escreve histórias!)

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