terça-feira, 31 de dezembro de 2013

2014

Minha avó dizia que sete era conta de mentiroso, mas entro o ano com sete livro aprovados!
Para dois já assinei contrato. E para um outro eu devia um conto, que "acabei de acabar". EM FAMÍLIA está pronto, e daqui a pouco vou ver a minha. Deixarei apenas os fogos cessarem. Não quero deixar meus bichinhos sozinhos nesse momento barulhento.

Estou muito feliz!

Que venha 2014.
Que venham mais ideias, mais publicações, mais amigos, mais capacidade de resolver problemas e não criá-los, mais tempo para ser feliz...

segunda-feira, 30 de dezembro de 2013

DIZER NÃO

“Dizer não e organizar
é um direito que ninguém
pode nos tirar.” José Saramago
  
Quando eu era menina toda noite ao deitar me imaginava voando sobre as mangueiras que avistava do meu quintal. Não fazia ideia do preço fabuloso que metade do mundo adulto pagaria por este meu sem-compromisso com o tempo e a realidade.
Como voei, com a velocidade e a discrição dos pardais...  
 Lá, sozinha, no chão do meu céu, éramos só eu e o ar, mais nada. Ninguém pra dizer “Desce daí menina!” ou  “Você é menina, não pode”, nem tampouco pra correr atrás com aquele remedinho vermelho (ardido que era), quase esperando meu tombo só pra dizer “Não disse pra não voar?!”
É, éramos só eu e o ar. Sem tempo pra trás ou pra frente. Só presente. E que presente!
Ali eu não era a prometida veterinária, a possível professora, a desejada médica ou qualquer coisa assim. Era somente uma criança, do alto dos meus cinco, seis anos, no céu de mim mesma, sobrevoando o espaço azul o tempo que ousasse imaginar, sem querer nada além de abrir os braços e levitar.
E voava, e contornava as folhas, e cruzava as nuvens, e fechava os olhos pra sentir o vento, e... E ... E...

Mas o tempo, senhor das vidas, nos cobra pouso em terra firme. Talvez pra pôr a prova o equilíbrio sobre o chão, talvez pra pôr a prova a coragem de dizer não. Porque, como se sabe, todo futuro é feito de alguns sins e muitos nãos. E viver em terra firme, mais que viver no ar (ou no mar) é viver fazendo escolhas. E não há nada mais movediço que o solo das decisões. Afinal, “quem prefere pretere”. Sim porque, se isso, então, adeus aquilo. Se for assim, então, não será assado.
Mas, se não arrisco não petisco!

Escolher é preciso.

Então pousei fazendo minhas escolhas, ou sendo escolhida por elas, dia após dia. O único problema é que ao aterrissar assim da mais tenra idade direto na maturidade, fiquei cheirando a nostalgia, com perfume de alegria, de infância perdida, cheia de carimbos e carinhos, pelo corpo inteiro. E talvez por isso, às vezes, a realidade me espante tanto... 
Voar aos seis anos era muito mais fácil que caminhar na maioridade. A não ser quando caminho por meu quarto, onde ainda voo enquanto digito meus textos, ou pelas ruas, enquanto caminho pro trabalho, ou pelo olhar de minha filha quando lhe digo eu te amo, ou pelo olhar das crianças enquanto lhes conto histórias. Nestas horas voo sem dificuldades.
Mas será que nessas horas estou na realidade?!  Acho que não.
Acho que nesses momentos me movimento dentro de sonhos: sonhos de escritora, sonhos de andarilha, sonhos de mãe (os mais doces), sonhos de voltar a voar nas asas das histórias. Sonhos.
Por isso nestes últimos minutos resolvi-me por pensar nas realidades, nas decisões que a vida me cobra. E resolvi que não devo nada a ela. Nada. É certo que disse sins demais e nãos de menos, é certo que voei demais e aterrissei de menos, mas como piloto aprendiz, gravei todas as instruções. Mais que isso, como todo avião registrei tudo na caixa preta, e ainda que me destrua por inteiro, minha aprendizagem vai estar lá, pronta pra ser ouvida por mim mesma que, erguida do chão, me refarei e voltarei a voar, porque, por mais que a vida me peça escolhas, acabo me repetindo, e saltando pro ar. Porque eu gosto mesmo é de voar. De todas as minhas escolhas, esta é a preferida. A que mais enriquece minha vida.
Voo nas histórias que conto e que escrevo. Voo nas brincadeiras que faço com minha filha, voo nas lutas que tenho que travar todos os dias pra me manter de pé. 
Voo porque é o que faço de melhor; é meu jeito de não estar só. Porque meu céu, é feito de palavras e ainda que fique muda, poderei escrevê-las; ainda que fique cega poderei dize-las; ainda que meu corpo não responda, poderei pensá-las; e quando até para isto a energia se acabar, outra criança, em outra parte do mundo, vai fazer tudo recomeçar. E onde quer que eu esteja, esta será minha emoção mais forte. Isto valerá todos os excessos de sim e todas as faltas de não, isto superará minha morte.

Não pretendo traçar nenhuma apologia à permissividade ou à casmurrice, afinal “assim como maçãs de ouro servidas em bandejas de prata é a palavra dita a seu tempo”, e ainda não li verdade maior que esta. O que desejo é destrancar as dores que trago no peito e me permitir dizer não pro que me incomoda e organizar meu mundo interno.

Depois, bem depois, fecharei meus olhos e voltarei a voar, porque eu não sou de ferro.

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Escrito em 2004, há quase dez anos atrás, e continuo voando!

domingo, 29 de dezembro de 2013

ENTRE MÃE E FILHO

 
       Desde cedo brincou com papel. Até suas bonecas eram feitas dele. Cola e tesoura no lugar de retalhos e agulhas, ao modelar os trajes com que as vestia. Tanto o fez, que foi através dele que reconheceu e assegurou seu papel no mundo. Da Certidão aos sentimentos, mantinha quase toda sua vida registrada. Das texturas mais densas às mais sedosas lembranças.
         Brinca agora.
       Seu pulso faz girar a caneta num bailado de formas bem desenhadas que contam histórias. (Já contara outras tantas: de infâncias, desejos, pequena notas, extensas laudas, poemas, pedidos). Com alma de fiandeira desfia o grafite do caule e tece, ora com vigor, ora com vagar, seus pensares. Sua tarefa ganha forma até o ponto final, mas a revisão cede lugar à reticente brisa que passa roubando-a de si mesma.
         Lembra-se do quanto apreciava recordar seus passos, escrever suas preces, abrandar suas pressas, nomear suas presas, decorar-se com asas.
        Nesse devir recua no tempo e brinca entre árvores, ciranda descalça, namora luares, revê caminhos, rascunha lugares... Permite-se balançar na rede da memória, sem demora, sentindo cada minuto ventar em seu rosto, com gosto.
         Sob tênue véu se vê menina, rodopia moça, mas, encharcada de ternura, se reconhece mulher. Com o passar das horas seu corpo já vertia o conteúdo láteo com que alimentaria seu sonho.
         Retorna à realidade.
      Peito aberto aproxima-se do berço e acolhe entre os braços seu melhor texto. Ressona um acalanto pra aninhá-lo e escreve com o olhar códigos de amor sobre o rosto de seu filho.
      Não há papel que registre. Palavra que represente. Fotografia que capture. Tela que retrate com fidelidade o que se passa.
         É quadro único. Obra ímpar.                                       
          O texto sobre a mesa aguarda revisão, mas este texto, entre mãe e filho, nasce pronto.
         Nasce.
         E pronto.

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In Contos e Outros Tantos, este texto nasceu muito antes do meu sobrinho Marco Túlio, mas foi somente quando ele veio que tudo fez sentido. No original eu insistia em falar de menina, porque sou mãe de menina, afinal. Mas o texto nasceu para este novo Ferreira, antes dele mesmo. E apenas ganhou sentido para mim quando, um dia, o vi, nos braços de minha irmã caçula, que... Desde cedo brincou com papel.



domingo, 22 de dezembro de 2013

Manjedoura vazia

         
         Um homem caminhava só pelas ruas da cidade. Contemplava as pequeninas flores que teimavam nascer entre as pedras do asfalto, e se perguntava por que por mais tivesse amado, estava agora tão só?      

          Entardecia, era Natal.

          Ao seu lado pessoas passavam apressadas para as últimas compras. Às vezes um ou outro parava para lançar-lhe um olhar meigo, cheio da compaixão que guardamos para sentir no natal. Tinham pena de sua roupa tão simples e sua solidão tão clara... Caminhavam em sua maioria em pequenos grupos, mas no fundo também elas estavam sós (daquela solidão das idéias sem par, dos amores unilaterais, dos desejos de mão estendida, de amigos), mas se negariam admitir! Vez por outra uma criança o apontava e dizia: “Mãe, olha o papai Noel!” e eram puxadas entre um lacônico “Anda, menino, anda!” ou simplesmente “Tá, meu filho, tá”.  Não tinham tempo para os arroubos infantis.

          E o homem caminhava.

          Por que mesmo com tanta dedicação e carinho seus queridos o ignoravam num dia tão especial quanto aquele? Será que havia sido esquecido?
          Nas ruas, decorações de todos os matizes com milhares de luzes que pisca-piscavam, disputavam a atenção dos passantes.
          No entanto, alguém, como o fez Assis1, lembrou-se de montar um presépio.
          No meio da praça, Maria, José, os reis magos, pastores e cada animalzinho estavam ali representados. Só a manjedoura mantinha-se vazia a dizer da grandeza do recém nascido.
          Um menino do alto de seus três anos, puxando a saia da mãe interrogava-lhe:
-          Mamãe, cadê o Menino?

          Neste instante o homem agachou, e estando da altura daquela criança, sentiu-lhe grandeza. Tocou-lhe carinhosamente nos ombros e, olhos nos olhos, como fosse também menino, pareceram efetuar ali mesmo um pacto de amor pelo mundo do porvir. 
          Já não estava só. Sabia que agora não seria esquecido.
          O pequenino então observando o homem que se levantara, virou-se para a mãe, e respondeu à sua própria pergunta:
-          Esse Menino tá muito ocupado, né mãe?! Tá muito ocupado!

          Não se sabe o porquê, mas naquela noite uma forte luz verde-azulada brilhou dentro da manjedoura vazia, como se o Mestre nos quisesse lembrar da mensagem de amor que veio trazer, nos quisesse dizer de Sua grande dedicação por cada um de nós...
             
          Ah?!  E o homem que andava só? Ora, esse Menino tá muito ocupado, muito ocupado!

Hellenice Ferreira
Natal de 1997 

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1 – Francisco de Assis foi quem montou o primeiro presépio, no ano de 1223.

quinta-feira, 5 de dezembro de 2013

Cena 11 - Então ele respondeu:

Meu pai era o tipo do cara de que me lembro, quase
sempre, com um livro, ou jornal, entre as mãos. Geralmente
eram livros à noite e jornais nas manhãs de
domingo.
Quando ele morreu, eu tinha dez anos, quase
onze. E se toda morte traz lá sua desculpa, a dele
foi das mais esfarrapadas: acidente de trânsito, em
frente à nossa casa e na calçada... Difícil de ler, não?!
Imagina de viver aos dez anos!
Mas, esfarrapada ou não, difícil ou não, para
tudo nessa vida a gente tem um parceiro que ajuda
bastante — o tempo.
E o tempo passou. Passou muito até que aquela
imagem de homem-leitor fizesse, na minha cabeça, o
sentido que faz hoje.
Naquela época, estávamos na década de setenta
(aprendi a ler, oficialmente, entre 75/ 76). Década da
lei 5.692 — “barra 72”. Lembro-me de que líamos um
livro por bimestre, a partir da quarta série. Mas, vivas
mesmo na lembrança, ficaram as malfadadas “provas
do livro”. Como eu odiava prova do livro! Irck!
Vinham encartes dentro das obras, e nós éramos
quase obrigados a decorar as respostas, objetivas,
que deveríamos dar neste ou naquele ponto. Sem tirar
nem por anotações.
Ler para mim era uma tortura, um saco.
A primeira prova do livro que fiz foi a partir
da leitura de O gigante de botas, de Ofélia e Narbal
Fontes, editora Ática, coleção Vaga-lume (quem
lembra? As obras, sempre oportunas, sujeitas ao uso
despreparado que só o tempo e a vontade de muitos
profissionais corrigiriam).
1980.
Acabei a leitura do livro, obrigada, num fim de
domingo (a prova seria na manhã seguinte). Meu pai
até que estimulava, mas, que nada, aquilo para mim
era tortura, na boa, como diriam os pré-adolescentes
de hoje.
Devo ter tirado nota para passar, porque não fiquei
com nenhuma má lembrança da prova.
Muitos anos depois reli o livro. Gostei muito.
Dele e do Cem noites tapuias lido também lá em 80.
E aí fiquei pensando: “Por que não gostei deles lá
atrás? Será que era só porque eu era criança? Mas
eles eram para minha faixa etária?! Por que tão distantes
então?”
Não. Absolutamente. Não foi a minha idade que
me separou da obra, foi o oferecimento. O livro não
chegou até mim como objeto encantado... A história
não chegou como história. Chegaram ambos como
instrumentos de avaliação. E nada mais difícil em
qualquer idade e sob qualquer pretexto do que ser
avaliado. Pesa, aflige, assusta.
Prova do livro.
O que prova sobre meu “aproveitamento” de uma
leitura senão minha vontade de partilhá-la com todas
as pessoas de que gosto?! Minha vontade irrefreável
de contar para todo mundo?! Escrever respostas
“pré-fabricadas” sobre este ou aquele personagem,
essa ou aquela parte, sobre (e isto é o pior) o que
quis dizer o autor me tornam, talvez, uma máquina
copiadora. Talvez nem isso.
E é aí que volto à imagem de meu pai.
Absorto. Estático, exceção feita à mão, que passava
as páginas, e aos olhos, sempre ávidos. A face interna
da leitura não podia nem posso ver. Mas aquela
imagem, deliciosamente compenetrada, definiu e redefiniu
meus encontros com as leituras, muitas vezes!
O que o fazia ler sem ninguém mandar, sem ninguém
pedir, ler para não fazer prova nenhuma?! Ler
e ser feliz?! Porque isso sempre ficou claro para mim,
ele era feliz lendo. Minha mãe diz até hoje que o
mundo poderia despencar que, se meu pai estivesse
lendo, não ouviria mesmo!
A leitura o nutria.
Quando catorze anos após sua partida, comecei a
trabalhar como mediadora de leitura, e sem perceber,
fui internalizando textos para contar, transformando-
-me pouco a pouco e sem saber em contadora de
histórias. Claro que fiz umas excursões sobre Júlias
e Sabrinas, José de Alencar e Exupéry antes, mas foi
quando vi o brilho que refletia no olhar dos meus ouvintes,
que me lembrando de meu pai, fui construindo
meus conceitos sobre a prática leitora. Não adianta
empurrar nada goela abaixo, que dirá livros! Vale dar
dica, vale oferecer, sem cobrança, claro, vale contar
ao pé do ouvido (e como vale!), mas tem que seduzir,
alimentar, semear. Isso! Semear é o verbo. Semear e
deixar que o dono da terra cuide do resto, na hora
que achar melhor. Vale ajudar, mas sem cobranças.
Ninguém obriga ninguém a ler. Que nos valha Daniel
Pennac! Semear e seduzir. Sempre. Sem medo.
Muita água rolou no rio de minha vida,
precisaria de muito tempo para que, um dia, conversando
com minhas irmãs mais velhas, me lembrasse
de um diálogo que se tornou marcante:
— Ah, pai, eu acho ler muito chato! — tinha entre
oito e dez anos.
Então ele respondeu:
- Minha filha, quando você perceber a importância
da leitura em sua vida, você nunca mais vai parar de
ler, nunca mais...
Além de tudo, meu pai, leitor inveterado, era visionário...
A lição foi aprendida.

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Originalmente publicado em CENAS COMUNS, este texto também consta da obra Literatura também é coisa de criança, escrito em parceria com Vera Lucia Santos da Silva e publicado pela Editora Ao Livro Técnico.

quinta-feira, 28 de novembro de 2013

O PIANISTA DO NÚMERO 22


           Era fim de verão no Alentejo.

         O outono se aproximava devagar, trazendo o vento fresco para abrandar o sol das manhãs e gelar as madrugadas na branca Beja.
         Eu caminhava só. Sempre. 
          Todas as madrugadas que passei por lá, pisei com cuidado sobre as grandes pedras do caminho, cabeça semibaixa, sentindo no rosto o vento gélido e no coração branda nostalgia.
          Era nessas horas que eu ouvia. De uma porta azul cobalto, a contrastar com a brancura derredor, mãos dedilhavam com sutileza e segurança um piano. O piano do número 22. Sei apenas isso do meu companheiro das madrugadas: que morava no número 22. Não sei o nome da rua, não sei seu nome, sua cor, seu sexo. Não senti seu perfume nem conheci sua voz, mas fui plateia discreta de suas apresentações. Porque sei que não eram treinos. Eram dedos treinados. Tocando por nostalgia ou deleite. Pelo prazer noturno de fazer vibrar a atmosfera.

         Nunca reclamei de estar só, mas por duas vezes quis ter alguém com quem repartir aqueles momentos... Muito bons pra sentir sozinha. Muito plenos para não serem multiplicados. Mas ficou somente entre nós duas: eu e a noite.
         Sim, porque nem o pianista sabia de mim, nem a porta poderia contar-lhe. Talvez o silêncio o tenha feito. Talvez a boemia lhe tenha dado notícias da ouvinte. Talvez. Nunca saberei.
         Naquelas noites de setembro, caminhava com lentidão, respiração suspensa, ouvidos atentos, coração estendido para receber os sons.
             
         Havia também um coral de grilos e holofotes de pirilampos a compor aquele cenário, onde eu era singela coadjuvante.
         No entanto nunca fiquei até o final. Nunca lhe disse “Bravo!”. Sequer aplaudi.
            
         Por isso que hoje, quando a inquietude me tirou da cama e Mozart me ofereceu seu piano concerto número vinte e um, eu, em outro andante, lembrei-me do Alentejo, da porta azul cobalto, da branca Beja onde fui presenteada com esta arte. E quando o maestro digital terminou sua execução, levantei-me e escrevi uma salva de palmas e gritos de “Bravo” ao Pianista. Do número 22.
             

         Bravíssimo!    

In CONTOS E OUTROS TANTOS

terça-feira, 26 de novembro de 2013

PINTURA

GRAFITE

         Era cinza.        
         Não que houvesse dor ou fadiga, mas ao seu olhar tudo era cinza. Sol, mato, gente, céu, era tudo um bolo uniforme de tons e semitons do cinzento vazio que a compunha. Mosaico humano de quereres, seus passos eram buscas em degradé, pela cor.
          Íris às vezes era forte e desbastava empecilhos como ninguém. Às vezes era frágil como colibri pousado no chão. No cinzento chão da procura. E quanto mais procurava menos cores vislumbrava ao seu redor.       
         Pintava sua vida a grafite.
          Dia após dia, lia seus afazeres com a lente difusa da espera, esfumando aqui, contornando ali, rasgando fora o que não servia. Engendrar sentidos era sua engenharia. E era de sonhos sua construção.


SÉPIA

         Como reencontro, se conheceram quando não se buscavam. No vai e vem das ruas trocaram as primeiras palavras e foi diante do mar o primeiro toque.
         Suas mãos entrelaçaram desejos em sépia, muitos bem guardados. Mas como só a mudança é permanente, seus braços se encarregaram de desarrumar as certezas...


E FOI ASSIM

E FOI ASSIM

         Ela deixou-se guardar entre seus braços, molemente, enquanto ele acariciava seus cabelos. Seus olhos semicerrados inda viram sua boca macia caminhar lentamente em direção à sua.
         Não, não foram lábios, foi o sol que a tocou! Morna de carinho sentiu quando a alma se preparou para mudar de corpo. Viu, com os olhos fechados, a paisagem que a esperava, e bebeu de seu frescor.
         E eram versos que escreviam um no outro, sem pressa, em prece, enquanto o sol dormia no horizonte e a lua dava boas vindas aos que a viam nascer.
         Era um andante, que eles compunham com notas de carinho.
         Era um balé. E dançavam, boca a boca, com a leveza de veteranos, embora virgens um do outro. 
         
         Ah, um beijo não é um beijo se não for um chamado mudo pra carícia, se não for um ceder-se ao afeto. Se não afrouxar a razão, e o coração não desejar, aos pulos, trocar de peito. Se não se soltarem, aos suspiros, os amantes. Se ao final, os olhos não estiverem brilhando. Um beijo é isto sim, uma oração a dois, sem antes ou depois, terços ou novenas. É reza forte: com cheiros e sabores, com ritos e códigos que nem os amantes decifram.
         Naquela hora, todas essas coisas estiveram ali, gravadas em suas bocas, na suavidade dos toques, no sem-fim do tempo, mas cada um guardou consigo a história que desejou. A pintura que fez na própria memória, como sempre é.


AQUARELA
“No more lonely nights, no more lonely nights...”  Paul MacCartney

         Viram-se muitas outras vezes. Conversaram muito, sobre tantas questões... Acho até que se tornaram amigos. Eu acho. Mas aquele beijo foi único, e o único! Não precisavam mais talvez. Aliás, não era questão de necessidade (nunca é!) e a questão, na verdade, não vem ao caso. O fato é que naquela noite, ela deixou que sua alma registrasse, numa aquarela de palavras, a magia daqueles segundos:

              Seus lábios, como veludo,
              tocaram meu silêncio cheio de eus te amos
              E foi só.

         Mas não fora, porque agora seu olhar já não era o mesmo, eram muitas as cores que compunham este mulher, para sempre arco-Íris.


DO LIVRO

CONTOS E OUTROS TANTOS 
        

domingo, 24 de novembro de 2013

LEITURA

AGORA

         Ela o sentia no cheiro dos livros novos. O tocava através das folhas, das poesias. Nunca nos romance, muito longos ao contrário de sua convivência com ele... No máximo o sentia nos contos, com sabor de clássicos. Nas crônicas do dia-a-dia, outros tantos de prosa, talvez. Via seus olhos no brilho das luzes sobre as capas e seu coração palpitava só de pensar na emoção dele com a leitura.
        
         Ele a ensinou a ler. A ler com a alma. Mas nunca saberia...
        
         Lendo tão assim, com a alma, ela tocava as páginas como quem entrelaça os dedos do ser amado. Cochichava consigo mesma sobre as entrelinhas e corava com as possibilidades que via diante de si. Seu mundo agora era outro. Como homeopatia, ingeria todo dia um texto. Num dia ria, noutro chorava. Mas nunca mais seria a mesma. Nunca mais! Agora via intensidade em tudo. Via mais beleza no mundo, nas coisas, nas pessoas. Se o vento roçava as folhas do coqueiro, ela construía com o olhar uma poesia, se chovia forte à noite, intuía um conto ou dois. E depois os partilhava com a mesma suave emoção com que os concebia.
         Conceber. Verbo visceral.
         Bem oportuno também, porque ela se sentia mesmo grávida. Grávida de vida, de palavras, de histórias. Sentia mesmo o corpo crescer aos empurrões da alma que irradiava mais forte.


ELE

         Semeador de palavras ele seguia sempre, abrindo olhos, despertando consciências, enternecendo corações. Seu verbo ia auxiliando no crescimento de tantos homens e mulheres sequiosos de saber. Seu caminho não tinha porto.
         Seu nome – Luan. E era mesmo parecido com a lua! Tinha fases, ausências, mas sempre refletindo luz e incentivando sonhos.


ELES
“O luar é a luz do sol que está sonhando!” Mario Quintana

         Foi assim.
         Ela estava distraída quando o viu chegar. Não sei se era dia ou noite, porque a pele branca dele fazia tudo parecer tão claro que ela não soube contar o tempo senão por Mnemosine. E aquele foi mesmo um tempo da memória afetiva. Só dela.
         Não teve relógio que ousasse contar as horas. Horas? Ora, para quê?!
            Ele a olhou como a tantos outros olhou. Como o oleiro diante da argila ou o lapidário diante da gema. Sorriu para iniciar seu trabalho e ela sentiu como se o luar entrasse pela janela. Riu sozinha quando escutou seu nome. Ninguém entendeu o porquê, mas é que naquela hora, só ela viu o sol que sonhava através do luar Luan. 


ELA

         Tímida, de fibra e ideais nobres, Marta era jovem madura desde menina, quando já ensinava a tantos as primeiras de letras. E o fazia com maestria. Nunca da mesma forma nem com menor prazer.
         Apesar disso, sentia que faltava algo a mais que mantivesse para sempre o brilho nos olhos daqueles a quem ensinava. Comparava seu trabalho ao céu sem a luz da lua: cheio de encanto e poesia, mas incompleto.
         Isso a incomodava...


O BAÚ             

         Marta nunca tinha pensado na leitura como canal para o que fazia. Sempre que alfabetizava ofertava livros para treino e como prêmio, mas nenhuma vez como ponto de partida. Até aquele dia em que encontrara Luan.

         Feitas as apresentações, ele abriu, no meio da sala, um baú. Tosco, rude e cheio de livros. Ela estancou. Seus olhos se limitaram a observar o caminho de cada um até ele. A forma cerimoniosa como folheavam.
         Minutos depois Luan pediu que sentassem, fechou o baú e abriu a boca.   Impregnou a sala de histórias. Contou e encantou por muito tempo. Todos viajaram ao som de sua voz, letra a letra, com intensidade. Quando então reabriu o baú, a história foi bem outra! E Marta percebeu onde estava a lua que precisava para completar seu trabalho. O marco era os livros, mas pra dar o tom era preciso o som das histórias contadas, remexidas com gestos e olhares, levadas ao forno das emoções em fogo brando, mas perene, e servido com paixão, paixão de ler!


POR ISSO         

         Por isso agora amava tanto. Lia e relia com tanto prazer. Sorria com corpo e alma, e sua boca já não se contentava em repassar saberes. Tinha acabado de romper a crisálida e queria voar alto, ou apenas voar simplesmente, pousando e fecundando cada flor, participando da multiplicação dos jardins. Jardins de palavras. Era com eles que sonhava quando a vimos na livraria, grávida de histórias.
         Nesse momento, sobre improvisado palco, rodeado de jovens e crianças de todas as idades, ela põe Mozart – concerto para flauta nº 2 – dá pulos em stacato, com olhos de quem belisca levemente, para chamar atenção.

         Já é anjo, e sopra histórias que faz viver por sua boca, olhares e gestos. O espaço se completa de luzes, sons, palpitações e a vontade de ouvir um pouco mais. Contando, reúne numa ciranda, autores e ouvintes, textos e desejo deles, e nesta roda – viva de histórias – a magia está completa.

         Marta contempla o espaço e suspira fundo, numa pausa que antecipa o fim.       Como é feliz assim, como é feliz.

         Ah, sim!
                       

VIDA E POESIA
“Não faço versos a ti. Faço versos de ti”. Mário Quintana

         Agora ela descansa corpo e alma, debruçada sobre a memória.
         Semente de seus ideais, seus pensamentos flutuam pelo quarto, seu mar, que reflete em águas calmas, a luz da lua.
         Relembra Luan.
         Quanto amor podia sentir agora prescindindo do corpo, da presença, do toque. E, no entanto, como tocava sua presença-ausente, seu corpo encantado, nas páginas da memória.
           
         A vida é plena de poesia e bem querer se o quisermos, sabe?! Se não prendermos apertados os momentos e pessoas, como eles se gravam em nós.

         Era assim que Luan estava em Marta: gravado para sempre, como água forte.
         Ela não vivia um poema de amor. Ela era amor. Era um cântaro cheio dele e o distribuía junto com as letras que ensinava e as histórias que contava.      Não escrevia contos. Os vivia. E era muito feliz assim...

LEITURA, abre o livro CONTOS E OUTROS TANTOS (que ainda não nasceu em papel)


quarta-feira, 30 de outubro de 2013

segunda-feira, 28 de outubro de 2013

quarta-feira, 16 de outubro de 2013

ENCONTREI ESTA ESCRITA NO RASCUNHO HOJE.
NÃO SEI PORQUE NÃO PUBLIQUEI NO DIA EM QUE ESCREVI - 27 DE JULHO. E MENOS AINDA PORQUE A ENCONTREI LOGO HOJE... LOGO AGORA...

Sábado passado estava em Portugal...
Estava com saudades daquela terra! E foi um afago poder voltar.
Rever amigos, pisar novamente aquele chão, respirar o Tejo, sentir o frio das noites (apesar do calor intenso dos dias de verão), enfim,estar lá.

No domingo revisitei o Castelo de São Jorge, que para sempre vai me fazer lembrar "A história do cerco de Lisboa", de Saramago, e sua história tão minha - já que também refiz a vida por causa de um não...

Portugal estava escrito em minha vida desde que nasci... Tive esta epifania conversando com minha amiga Vera, dias antes de voltar lá, lembrando que, quando voltei a andar depois da paralisia infantil, quebrei um vaso que minha mãe tinha ganhado,vindo de lá... 
Estou ansiosa e inquieta.
Não consigo dormir.
As palavras vêm escritas, mas queria trocá-las com alguém... Com alguns amigos em especial...
Só que todos estão dormindo...
Não gosto quando fico assim.
Tenho vontade que amanheça logo.
Não por fobia da noite,mas por saudades do sol, da claridade, do poder me mexer da cama, da casa, do ninho,e me procurar por aí..
Lembro-me agora de quando ouvia direto Ana Carolina:
"Eu vou contar pra todo mundo 
Eu vou pichar sua rua"...
Como me dói o amor que me afaga.
Como me afoga esta dor que me alimenta.

sexta-feira, 4 de outubro de 2013

Hoje eu teria tanta coisa para escrever
Tanta alegria para contar
Mas o tempo faz meus olhos pesarem de sono
E preciso dormir

sexta-feira, 6 de setembro de 2013

Passei a semana falando sobre o Brasil, com meus alunos de cinco anos.
E para isso muita literatura, claro!
Até falarmos hoje do tal 7 de setembro, por exemplo, viajamos na caravela de "Pedro, o menino navegador", da Lucia Fidalgo; trocamos "Correspondência", após a leitura terna e política do livro homônimo de Bartolomeu Campos de Queirós; conhecemos um pouco das regiões, suas diferenças climáticas, sociais, e até de linguagem.
Hoje, aterrissamos em Brasília.
Falei do outro Pedro, o I, do Congresso Nacional, da Presidenta; mostrei fotos, relembrei nossa conversa de quarta, que teve citação das manifestações nas ruas, CLARO! E a hora passa voando.

Minutos antes da pausa para o lanche eles me perguntam se poderiam escolher livros livremente para ler: "Só um pouquinho".
Comigo SEMPRE vão poder! 
Então, aproxima-se de mim uma das crianças mais sensíveis da sala e pede:
- Você pode ler esse pra gente?
Era "OS MÚSICOS DE BREMEN"!!!

Ameeeeeeeeeeeeeeei!!

Essa geração vai escrever histórias melhores! 
É certo que talvez a menininha não tenha feito nenhum link (é mais certo que não), mas fiquei tão emocionada, tão feliz, que prefiro acreditar que recebi uma carta do futuro, me dando certeza de que a arte vencerá as ladinagens!
Precisei contar.

Segunda-feira vou levar OS SALTIMBANCOS! 

OBS.: No desenho ela reproduziu a "Descoberta", sobre a qual conversamos na terça, e os Bichinhos-Músicos. 
Estariam interceptando algo? Mudando nosso começo? Ou nos fazendo lembrar que sempre é tempo de recomeçar? 

segunda-feira, 29 de julho de 2013

As meninas

Pra Kika Freyre

Eram duas meninas.
Uma tinha os cabelos em alfa.
Na outra escorriam rios dourados.

Uma morava ao sul, entre cimento e esperanças.
A outra ao norte, entre mares e andanças.
E as duas acreditavam nas noites de natal!

Uma tecia possibilidades entre as rochas.
A outra era uma rocha de possibilidades.
Mas ambas carregavam água na peneira como seu Manoel.

Nos olhos de uma viviam prado e mel.
Na outra uma noite inteira de estrelas brilhantes.
E tudo nelas era natureza!

O avô de uma fazia pão pra alimentar o corpo.
O avô da outra fabricava letras de comer com os olhos.
Mas as duas adoravam a palavra pão e o pão da palavra.

Uma amava sapinhos bem verdes.
A outra, sapatinhos vermelhos.
E ambas uivavam pra lua!

Uma trazia borboleta azul gravada no corpo.
A outra era ela mesma, uma borboleta a sobrevoar mares e céus.
Mas as duas falavam a língua das fadas.

Um dia, se olharam no espelho das histórias...
As estrelas da noite brilharam no verde prado.
Seus rostos eram irmãos em vida e sonhos!

Então, quando o espanto virou gargalhada
e suas vozes ajustaram os tons,
elas trocaram um abraço, os laços e o endereço.

Agora tem uma borboleta,
forte como uma rocha
sobrevoando ao Sul!


Enquanto ao norte
sapatinhos vermelhos
dançam pra lua.

Mas ambas continuam carregando água na peneira,
e contando, no idioma das fadas,
que todos os dias agora, são noites de Natal! 

Hellenice Ferreira

domingo, 14 de julho de 2013

Santa Teresa

Hoje estava relendo um blog antigo (2010), cujas postagens retirei do ar, e encontrei essa: 


"Há anos que já não sou católica.
Não faço a menos ideia de quem foi Santa Teresa.
Mas não me imagino sem subir Santa.
Um lugar que, de mansinho, foi se gravando dentro de mim.
Que, devagarinho, foi se tornando meu canto...
Ainda que Duque de Caxias seja meu chão diário.

Com todo o respeito à religião que me formou na infância:
hoje sou devota de Santa Teresa: o bairro.
O lugar que fundiu minha poesia com o sol, o som (dos bondes),
o tempo, dúzia de amigos e muitos, muitos passos meus...

Ave, Santa!!!!!!"

Isso tudo veio muito a calhar, porque ontem estive por lá, almoçando no Marcô, que, apesar do Sobrenatural, é meu restaurante preferido!
Muitas vezes fui a Santa à tardinha para almoçar por lá, como fiz ontem.
Bossa nova, choro, jazz, sempre uma música das boas me recebendo,me alimentando junto com meu preferido "frango com ervas finas"!

Santa Teresa.
Um pedaço de mim mora lá.


PS.: Só não sei se não sou mais católica. Apesar de conceber a reencarnação como um fato, tenho estado muito, muito próxima à Igreja Católica como espaço de oração.

sábado, 6 de julho de 2013

Paraty 2012



Nas Igrejas de Paraty, bençãos em forma de cor.
Tô voltando para decorar minha alma! 

Paraty

Estou seguindo para Paraty.
Terceira OFF FLIP em que trabalho.
A novidade de hoje é que será mesa redonda: As histórias como terapia.
Ao lado da Inez! Uma honra e alegria maior ainda!

Mas vou a Paraty com o mesmo coração inquieto de 2009...

Será, de verdade, que algum dia meu coração não foi inquieto? Será que algum dia ele será acompanhado por sonoridade igual, ao mesmo tempo e tom? Não sei se quero saber, mas sei que, hoje, não sei...

quarta-feira, 3 de julho de 2013

O Felino


Curioso,
o felino olha a luz da tela
e repara dentro dela
mil mistérios tolos,
que só os humanos
- sabidos que são -
prestam verdadeira atenção. 

segunda-feira, 1 de julho de 2013

...


Viva Minas que vive em minhas entranhas!
Viva Minas de todo os Gerais sentimentos 
e mais particulares amores.
Viva essa terra imensa do Sudeste.
Viva, viva, viva!

Hoje estou mineira...

Minas em mim
Para meu avô Libório, Bartô e Vander Lee


Minas acorda acordes em sol
e descanso lembranças que não vivi.

Montanhas-de-mar me ondulam
em acalantos de cheiros e ternuras.
Adormeço.

Minas escorre por meus poros
e brota raízes inversas.
Arvoreço.

Grávida de sedes-de-mar
Minas desperta meu sono
com tilintar de estrelas.

Quisera palavras
com que pudesse dizê-la.

Quisera silêncio
que se igualasse ao dela.

Minas em mim
é mais do que terra:
é geral e particular,
é chão de gente-poeta,
e sentidos sem fim.

Minas é feita de espaços.
Abraços.
É terra que sonha meus mares.
É terra feita de mim.

Hellenice Ferreira
Dia mineiro no Rio de Janeiro
Agosto de 2012

domingo, 30 de junho de 2013

Hoje é dia de METÁFORA

"Deixe a meta do poeta, não discuta"
Gilberto Gil


Metáfora (desse bahiano porreta!)

Uma lata existe para conter algo,
Mas quando o poeta diz lata
Pode estar querendo dizer o incontível

Uma meta existe para ser um alvo,
Mas quando o poeta diz meta
Pode estar querendo dizer o inatingível

Por isso não se meta a exigir do poeta
Que determine o conteúdo em sua lata
Na lata do poeta tudo-nada cabe,
Pois ao poeta cabe fazer
Com que na lata venha caber
O incabível

Deixe a meta do poeta, não discuta,
Deixe a sua meta fora da disputa
Meta dentro e fora, lata absoluta
Deixe-a simplesmente metáfora


http://www.youtube.com/watch?v=uBA1nUHJhI0