Entardecia, era Natal.
Ao seu lado pessoas passavam
apressadas para as últimas compras. Às vezes um ou outro parava para lançar-lhe
um olhar meigo, cheio da compaixão que guardamos para sentir no natal. Tinham
pena de sua roupa tão simples e sua solidão tão clara... Caminhavam em sua
maioria em pequenos grupos, mas no fundo também elas estavam sós (daquela
solidão das idéias sem par, dos amores unilaterais, dos desejos de mão
estendida, de amigos), mas se negariam admitir! Vez por outra uma criança o
apontava e dizia: “Mãe, olha o papai Noel!” e eram puxadas entre um lacônico
“Anda, menino, anda!” ou simplesmente “Tá, meu filho, tá”. Não tinham tempo para os arroubos infantis.
E o homem caminhava.
Por que mesmo com tanta dedicação
e carinho seus queridos o ignoravam num dia tão especial quanto aquele? Será
que havia sido esquecido?
Nas ruas, decorações de todos os
matizes com milhares de luzes que pisca-piscavam, disputavam a atenção dos
passantes.
No entanto, alguém, como o fez
Assis1, lembrou-se de montar um presépio.
No meio da praça, Maria,
José, os reis magos, pastores e cada animalzinho estavam ali representados. Só
a manjedoura mantinha-se vazia a dizer da grandeza do recém nascido.
Um menino do alto de seus três anos,
puxando a saia da mãe interrogava-lhe:
-
Mamãe, cadê o
Menino?
Neste instante o homem agachou, e
estando da altura daquela criança, sentiu-lhe grandeza. Tocou-lhe
carinhosamente nos ombros e, olhos nos olhos, como fosse também menino,
pareceram efetuar ali mesmo um pacto de amor pelo mundo do porvir.
Já não
estava só. Sabia que agora não seria esquecido.
O pequenino então observando o homem
que se levantara, virou-se para a mãe, e respondeu à sua própria pergunta:
-
Esse Menino tá
muito ocupado, né mãe?! Tá muito ocupado!
Não se sabe o porquê, mas naquela
noite uma forte luz verde-azulada brilhou dentro da manjedoura vazia, como se o
Mestre nos quisesse lembrar da mensagem de amor que veio trazer, nos quisesse
dizer de Sua grande dedicação por cada um de nós...
Ah?!
E o homem que andava só? Ora, esse Menino tá muito ocupado, muito
ocupado!
Hellenice Ferreira
Natal de 1997
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1
– Francisco de Assis foi quem montou o primeiro presépio, no ano de 1223.
Lindo texto... realmente a maioria se preocupa com tudo nesta época, menos com o mais importante...
ResponderExcluirPois é, Fabiana. Que possamos ser instrumento dessa lembrança de algum modo...
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