domingo, 22 de dezembro de 2013

Manjedoura vazia

         
         Um homem caminhava só pelas ruas da cidade. Contemplava as pequeninas flores que teimavam nascer entre as pedras do asfalto, e se perguntava por que por mais tivesse amado, estava agora tão só?      

          Entardecia, era Natal.

          Ao seu lado pessoas passavam apressadas para as últimas compras. Às vezes um ou outro parava para lançar-lhe um olhar meigo, cheio da compaixão que guardamos para sentir no natal. Tinham pena de sua roupa tão simples e sua solidão tão clara... Caminhavam em sua maioria em pequenos grupos, mas no fundo também elas estavam sós (daquela solidão das idéias sem par, dos amores unilaterais, dos desejos de mão estendida, de amigos), mas se negariam admitir! Vez por outra uma criança o apontava e dizia: “Mãe, olha o papai Noel!” e eram puxadas entre um lacônico “Anda, menino, anda!” ou simplesmente “Tá, meu filho, tá”.  Não tinham tempo para os arroubos infantis.

          E o homem caminhava.

          Por que mesmo com tanta dedicação e carinho seus queridos o ignoravam num dia tão especial quanto aquele? Será que havia sido esquecido?
          Nas ruas, decorações de todos os matizes com milhares de luzes que pisca-piscavam, disputavam a atenção dos passantes.
          No entanto, alguém, como o fez Assis1, lembrou-se de montar um presépio.
          No meio da praça, Maria, José, os reis magos, pastores e cada animalzinho estavam ali representados. Só a manjedoura mantinha-se vazia a dizer da grandeza do recém nascido.
          Um menino do alto de seus três anos, puxando a saia da mãe interrogava-lhe:
-          Mamãe, cadê o Menino?

          Neste instante o homem agachou, e estando da altura daquela criança, sentiu-lhe grandeza. Tocou-lhe carinhosamente nos ombros e, olhos nos olhos, como fosse também menino, pareceram efetuar ali mesmo um pacto de amor pelo mundo do porvir. 
          Já não estava só. Sabia que agora não seria esquecido.
          O pequenino então observando o homem que se levantara, virou-se para a mãe, e respondeu à sua própria pergunta:
-          Esse Menino tá muito ocupado, né mãe?! Tá muito ocupado!

          Não se sabe o porquê, mas naquela noite uma forte luz verde-azulada brilhou dentro da manjedoura vazia, como se o Mestre nos quisesse lembrar da mensagem de amor que veio trazer, nos quisesse dizer de Sua grande dedicação por cada um de nós...
             
          Ah?!  E o homem que andava só? Ora, esse Menino tá muito ocupado, muito ocupado!

Hellenice Ferreira
Natal de 1997 

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1 – Francisco de Assis foi quem montou o primeiro presépio, no ano de 1223.

2 comentários:

  1. Lindo texto... realmente a maioria se preocupa com tudo nesta época, menos com o mais importante...

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  2. Pois é, Fabiana. Que possamos ser instrumento dessa lembrança de algum modo...

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