quarta-feira, 22 de fevereiro de 2012

Fotografia

Assentando na calçada da livraria o velho era o Tempo... Uma fotografia em preto e branco de décadas e décadas de muitas vidas. Por seu silêncio passavam amores, desafetos, dor, apego... E o futuro ria, talvez. Ou chorava... Naquele presente o velho só tinha passado. (Registrado pela lente do futuro, talvez) Mas ele inteiro era só passado, assentado na soleira daquela livraria, onde pedras de ouro preto, carvão dos sonhos, faziam do chão moldura para a melancolia. Queria tê-lo deixado passar, mas ele adentrou minha vida pela porta escancarada da minha busca incansável por histórias. Ou memórias. Não sei quem ele é, mas em seu rosto vi meu avó, vi Bartô, vi o filho que eu não tive, aguardando toda vida nas portas do céu... Vi você. É, você, que lê, desavisadamente, esta história de uma fotografia. É, uma fotografia apenas! Sem saber que, lendo, também grava sobre ela seu olhar de falta, saudade, afago, afeto... O velho vai estar sempre lá, no sem-tempo da fotografia. E todas as vezes em que for quarta-feira de cinzas, vou lembrar suas rugas, seu silêncio, sua cor melancólica, pintada por estas palavras soltas...

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