terça-feira, 16 de junho de 2015

Sobre nascimentos

Fui estudar a Doutrina Espírita aos dezesseis anos, mas em reencarnação eu sempre acreditei. Ninguém me ensinou. Nasci assim: vendo a pluralidade das existências como um fato.
Por isso minha madrinha não quis me crismar...
Compreendo.
Na Doutrina aprendi que Allan Kardec era, na verdade, o pseudônimo de um estudioso chamado Hippolyte Léon Denizard Rival. Que é possível comunicação inteligível com o outro plano de vida. Como podemos doar energia a quem precisa através de imposição de mãos. Que a metempsicose não seria uma possibilidade lógica. Um montão de coisas com as quais concordei. Até ministrei palestras!
(Metempsicose é poder nascer humano, depois bichinho, depois humano, depois bichinho, fácil assim, sem conflito, sem crise)
Uma noite, eu sai de casa para comprar água mineral - essa coisa doida da nossa época - e vi uma gata preta, pretinha, tentando entrar na casa da minha irmã.
Levei um papo com ela:
- Ih, 'cê tá entrando na casa errada...
Ela parou de tentar e me olhou.
- Você quer ajuda? Ih, você tá esperando filhote! Você quer ajuda para ter seus filhotes? Peraí que vou comprar água e te pego.
Ela sentou. Depois, talvez descrente, foi andar.
Quando voltei com a água, vi meninos grandes judiando dela.
- Ô, vocês não têm vergonha não? A bichinha tá grávida! Cruzes. Que maldade!
Enquanto eu falava, ela se embarafustou pra outra casa, ligeira.
Entrei na minha, lavei e guardei a garrafa e sai para procura-la.
Demorei a encontrar. Mas ela veio. Dócil. Entrou na minha casa e nunca mais saiu! Só reclamou porque a deixei no box, longe dos outros. Depois, integrada, nunca mais reclamou. A casa hoje é sua. E ela a habita com poesia.
No dia do parto de seus filhinhos, Noite Preta - como a batizei - subiu pela primeira vez na minha cama. Roçou a cabeça no meu pescoço e cobrou a ajuda que prometi...
Fiz o parto. E como me orgulho disso!
Duas fêmeas se ajudando.
Hoje rezo o terço. Assumo que sou filha de Oxum. E ainda acredito em muitas coisas que estudei aos dezesseis anos.
Mas, de verdade...
Quando Noite Preta me olha, desconfio que saiba como vou renascer... Desconfio. Afinal, tenho apenas quarenta e cinco anos. Sou nova demais pra saber dessas coisas...


Postado em www.facebook.com/helleniceferreira em 16 de junho de 2015, às 20:14

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