Brinca agora.
Seu pulso faz girar a caneta num
bailado de formas bem desenhadas que contam histórias. (Já contara outras
tantas: de infâncias, desejos, pequena notas, extensas laudas, poemas,
pedidos). Com alma de fiandeira desfia o grafite do caule e tece, ora com
vigor, ora com vagar, seus pensares. Sua tarefa ganha forma até o ponto final,
mas a revisão cede lugar à reticente brisa que passa roubando-a de si mesma.
Lembra-se
do quanto apreciava recordar seus passos, escrever suas preces, abrandar suas
pressas, nomear suas presas, decorar-se com asas.
Nesse devir recua no tempo e brinca
entre árvores, ciranda descalça, namora luares, revê caminhos, rascunha
lugares... Permite-se balançar na rede da memória, sem demora, sentindo cada
minuto ventar em seu rosto, com gosto.
Sob tênue véu se vê menina, rodopia
moça, mas, encharcada de ternura, se reconhece mulher. Com o passar das horas
seu corpo já vertia o conteúdo láteo com que alimentaria seu sonho.
Retorna à realidade.
Peito aberto aproxima-se do berço e
acolhe entre os braços seu melhor texto. Ressona um acalanto pra aninhá-lo e
escreve com o olhar códigos de amor sobre o rosto de seu filho.
Não há papel que registre. Palavra que
represente. Fotografia que capture. Tela que retrate com fidelidade o que se
passa.
É quadro único. Obra ímpar.
O texto sobre a mesa aguarda revisão,
mas este texto, entre mãe e filho, nasce pronto.
Nasce.
E pronto.
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In Contos e Outros Tantos, este texto nasceu muito antes do meu sobrinho Marco Túlio, mas foi somente quando ele veio que tudo fez sentido. No original eu insistia em falar de menina, porque sou mãe de menina, afinal. Mas o texto nasceu para este novo Ferreira, antes dele mesmo. E apenas ganhou sentido para mim quando, um dia, o vi, nos braços de minha irmã caçula, que... Desde cedo brincou com papel.
Lindo demais....bjs
ResponderExcluirAgradecida, Silvia <3
ResponderExcluirliindo, moça, lindo demais...
ResponderExcluir:)